Mesmo reconhecida como sistema linguístico oficial usado por pessoas surdas no Brasil, a Língua Brasileira de Sinais (Libras) ainda não foi plenamente incluída no sistema educacional do país. Observando essa realidade, a discente do curso de Letras – Língua Portuguesa da Universidade Federal do Pará (UFPA) Marceli Pacheco desenvolveu uma trilha de leitura gamificada e hipertextual capaz de auxiliar estudantes surdos e educadores no cotidiano escolar. A atividade, chamada “Trilhando na Amazônia”, proporciona o conhecimento de saberes ancestrais, tecnológicos e ambientais em uma plataforma totalmente bilíngue.
Sob orientação da professora Jailma Bulhões (ILC/UFPA), Marceli passou os últimos dois anos em campo, na escola E.E.E.F.M. Jarbas Passarinho, durante o ciclo 2024-2025 do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (Pibid). “O que me inspirou a fazer a trilha foi a realidade que vivenciei na escola. Havia recursos, mas eram recursos do atendimento educacional especializado (AEE) voltados ao público infantil”, explica a discente. “Quando a gente analisa os materiais disponíveis na sociedade para os alunos surdos, a gente constata que são materiais infantis, que não contemplam a todos, afinal não existem apenas alunos surdos crianças. Existem alunos surdos jovens e idosos também.”
Além da falta de compatibilidade dos recursos oferecidos pelo AEE com a faixa etária dos discentes oriundos da Educação de Jovens, Adultos e Idosos (Ejai), Marceli também observou outros problemas no ambiente escolar durante o seu período de estágio docência, como a carência de interação entre os alunos surdos e os professores, a ausência de intérpretes de Libras em sala de aula e a desvalorização desse sistema linguístico pela instituição. Todas essas inquietações serviram de inspiração para a elaboração do “Trilhando na Amazônia”.
“A ideia surgiu nas conversas com a minha orientadora. Eu pensei em criar um recurso mais desafiador, na medida do possível, para esses alunos, e também que fosse traduzido em libras”, acrescenta Marceli Pacheco.
“Trilhando na Amazônia” como solução – Outro ponto central do trabalho desenvolvido pela discente é o protagonismo das culturas amazônicas, sobretudo aquelas de origem indígena: “o game é uma trilha de leitura com 18 capítulos que contam a história de uma personagem indígena. A personagem principal, que é muito importante para a sua comunidade, ganha um amuleto muiraquitã do pai dela. Só que, uma noite, homens maus, que são representados por pessoas que desmatam e ferem os animais, conseguem roubar o amuleto, e a aventura começa. A partir daí, os homens e as mulheres da aldeia vão atrás desses homens maus”, conta Marceli.
Ela acrescenta que a temática amazônica é trabalhada no game com base na valorização desses saberes ancestrais, abordando questões ambientais. “Tem uma parte da trilha, por exemplo, que descreve o que deve ser feito para amenizar o desmatamento. Então, o game também trabalha essas questões de consciência ambiental. Além disso, aparecem personagens como o boto, o uirapuru, a Iara e outros encantados que, na história, testam os conhecimentos tradicionais do jogador”, explica. Os capítulos contam, ainda, com desafios para que os leitores ajudem os personagens da história.
Finalista do Prêmio LED Cultura – O game interativo “Trilhando a Amazônia” também é um dos quinze finalistas do Prêmio LED – Luz na Educação Cultura 2026, iniciativa da Globo e da Fundação Roberto Marinho que busca mapear, reconhecer e celebrar práticas inovadoras em educação em todo o país. As iniciativas vencedoras serão divulgadas em abril de 2026. Além do reconhecimento público, cada premiado receberá R$200 mil.

