O Instituto de Pesquisa para o Desenvolvimento (IRD-França), em parceria com o Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA-UFPA), está promovendo mesas-redondas para debater, no contexto da COP 30, temáticas de interesse das Ciências Sociais e de movimentos sociais que atuam em prol da justiça social e ambiental na Amazônia. A programação faz parte da Agenda de Ações do Projeto Iaraçu.
A segunda mesa-redonda promovida, intitulada “Qual é a contribuição acadêmica para a justiça climática?”, explorou quais poderiam ser as contribuições da Universidade para a justiça ambiental. A mesa foi coordenada pela professora Tânia Ribeiro, docente do PPGSA e socióloga, e contou com a participação das(os) professoras(es) Sônia Magalhães (Ineaf e PPGSA-UFPA), Jean-Baptiste Meyer (IRD e Universidade Nacional de Colombia), Isabel Georges (IRD e Universidade de Paris VIII), Milena López (Universidad Nacional de Colômbia) e Carlos Freire (PPGSA).
Os debates abordaram temas como a pesquisa intercultural; transições energéticas; Amazônia urbana; justiça ambiental e paralelos sociopolíticos entre Colômbia e Brasil. No que se refere às transições energéticas, isto é, à mudança gradual do uso de combustíveis fósseis para fontes de energia “renováveis” como as energias solar, eólica e hidrelétrica, os comentários da professora Sônia Magalhães foram pontos de destaque.
“A transição energética, do modo como ela está se encaminhando, é uma reedição da violência sobre os pobres, sobre as comunidades tradicionais e uma expropriação da identidade. Se formos fazer um levantamento sobre onde foram construídas as grandes usinas hidrelétricas, como Belo Monte e Tucuruí, são todos territórios com forte presença indígena e de povos tradicionais. Essas hidrelétricas são formas de produção de energia que impõem perdas sociais equivalentes a genocídios”, demarcou Sônia, professora e coordenadora do Grupo de Pesquisa “Sociedades, Ambiente e Ação Pública”.
Outro ponto de destaque foi a mediação da professora Tânia Ribeiro, que, durante as suas falas, reiterou o papel fundamental dos povos tradicionais como protagonistas do enfrentamento às mudanças climáticas e a importância de se promover um deslocamento intelectual nas universidades que reconheça outras epistemologias, ou seja, que reconheça outras formas e fontes de construção de conhecimento
“É preciso chamar a atenção do estado e da academia, no sentido de fazê-los olhar para esses locais durante a elaboração das políticas públicas, seja na cidade, seja em um território, seja nas baixadas”, acrescenta Tânia Ribeiro. Para os participantes da roda de conversa, uma transição ecológica “limpa” também deve ser justa. Isso significa que, por si só, a adoção de fontes de energia renováveis não promove justiça ambiental.
“Não há equivalência entre energia renovável e energia limpa. Você não pode pensar o limpo apenas a partir do ambiental. O limpo tem que ser também socialmente limpo, socialmente justo. Então, no Brasil, hoje, a discussão que tem se colocado torna muito mais complexo o significado de transição energética. Afinal, os territórios também aparecem como importantes”, concluiu a professora Sônia Magalhães.

