A prática racista é um problema estrutural que afeta instituições de ensino em diversas regiões do país. Foi pensando nesse cenário que a Escola de Teatro e Dança da UFPA (ETDUFPA), por meio do Projeto Memórias da Dança, promoveu o curso “Corpo e Ancestralidades – Caminhos para uma educação antirracista”. O propósito da realização era proporcionar aos estudantes o desenvolvimento de uma prática profissional mais inclusiva, respeitosa e comprometida com a promoção da igualdade racial e da valorização da diversidade étnico-cultural.

De acordo com a Lei 10.639/2003, que altera a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileiras é prevista em todas as escolas do país. À vista disso, o objetivo da formação buscou cumprir essa determinação, proporcionando a reflexão e o aprofundamento dos temas que envolvem a ancestralidade africana na formação da identidade brasileira às(aos) bailarinas(os), estudantes e egressas(os) das Licenciaturas e dos Cursos Técnicos de Dança, Teatro, Pedagogia, além do público em geral.

“O conhecimento fornecido pelo curso Corpo e Ancestralidades é fundamental para a formação de estudantes, que serão futuros educadores e artistas atuantes na sociedade. Ao compreenderem a riqueza e a diversidade das culturas africanas e afro-brasileiras, os participantes poderão desenvolver uma prática profissional mais inclusiva, respeitosa e comprometida com a promoção da igualdade racial e a valorização da diversidade étnico-cultural”, explica o coordenador do projeto, professor Carlos Dergan.

Educação antirracista – Os alunos do curso “Corpo e Ancestralidades – Caminhos para uma educação antirracista” têm acesso a conteúdos práticos e teóricos acerca dos temas que envolvem as culturas africanas e afro-brasileiras, como a própria mitologia, os rituais, as músicas, as danças e as expressões artísticas. Além disso, os estudantes também aprenderam com o professor Ataide Júnior as referências atuais sobre a história e a herança cultural dos povos africanos, assim como os desafios da educação antirracista no Brasil. A perspectiva é que uma nova turma da formação seja ofertada já no próximo mês de abril.

“Minha expectativa com relação a essa formação é que os participantes adquiram conhecimentos embasados na história e nas tradições das culturas africanas e afro-brasileiras, para que eles possam aprimorar o seu fazer artístico, a sua prática pedagógica  desdobrando, em uma bandeira, luta contra as estruturas racistas, de forma a promover uma educação mais inclusiva da diversidade étnico-cultural do Brasil”, explicou Dergan.

Para a participante do curso Stella Sabrina Mendes, a capacitação já teve um papel essencial para a sua formação. “O conhecimento repassado pelo professor Ataide foi de muita sabedoria, eu pude compreender os detalhes que estão além da dança e fazer uma ligação dos movimentos que possuem um ‘porquê’ e um ‘para quem’. A formação foi, de fato, importante para aguçar, ainda mais, o meu desejo em buscar maiores conhecimentos e poder compartilhar o meu aprendizado sobre uma verdadeira educação antirracista”, pontou Stella Sabrina Mendes.

Outra participante do curso, a estudante de Ciências Sociais da UFPA Beatriz Lacerda, destacou a sua felicidade em poder vivenciar este momento de compreensão da representatividade negra na formação artística. “Foi muito proveitoso estar aqui entendendo a arte e a dança através da nossa ancestralidade. É um curso em um momento muito rico para a gente entender o nosso corpo no mundo como pessoa negra. Eu sou membro de comunidade candomblé, então é muito bom estar vendo, dentro da academia, como artista, esses saberes sendo compartilhados”, comemorou Beatriz.