Como já foi apontado nas matérias anteriores da série sobre o Dia Internacional para a Eliminação da Discriminação Racial, 21 de março, a educação é um dos principais artifícios para a erradicação da discriminação racial da sociedade. Mas, nesta luta contra a discriminação racial, é importante lembrar que não estamos falando apenas de educação formal, como formadora, e sim de diferentes ferramentas educativas que trabalham o conhecimento sob abordagens variadas e são capazes de envolver e alcançar diferentes grupos sociais, como o cinema e a literatura.
A educação é ferramenta essencial para a formação de cidadãos conscientes da necessidade da luta pela igualdade racial e pelo respeito às diferenças. Mas, muitas vezes, o entendimento sobre a gravidade de temas como discriminação racial, segregação racial, intolerância, entre outros, não é compreendido facilmente por todos. Por esse motivo, cada vez mais se faz importante o uso de diferentes plataformas para a abordagem desses temas. E, seja para crianças, seja para adultos, mensagens importantes de identificação, de tolerância, de respeito às diferenças e de aceitação, muitas vezes, podem ser melhor observadas e entendidas por meio da vivência de personagens, que normalmente estão presentes nas obras literárias e cinematográficas.
Contribuições do cinema na luta contra a discriminação – A utilização do cinema como uma ferramenta educativa não somente promove o envolvimento do telespectador, como também possibilita um enfoque em aspectos culturais e históricos que oferecem uma visão geral de como a sociedade se comporta ou se comportou em uma determinada época, o que pode contribuir para uma possível mudança social. Como uma tecnologia social de primeira ordem, além de representar o que se passa na sociedade, o cinema também é capaz de pautar o que acontece nela. A temática da discriminação racial e o racismo, por exemplo, sempre estiveram presentes em suas obras.
“Além da prática da blackface (prática racista na qual atores brancos pintavam os rostos de preto para ridicularizar pessoas negras), poderíamos citar inúmeros exemplos de racismo quando tratamos de cinema e todos os pós-cinematográficos. Contudo não podemos deixar de reconhecer que será por meio do cinema e da televisão que a humanidade verá ou terá também importantes contribuições, seja para denunciar o racismo, seja para a exaltação da diversidade, especialmente a partir do fim do século XX e do início deste século XXI. Desde então, incontáveis filmes são tanto registros quanto marcos desses momentos históricos de lutas por emancipação e pelos direitos civis, em diversas cinematografias do mundo”, lembra a professora da Faculdade de Artes Visuais Ana Claudia Melo.
Há, inclusive, uma série de filmes brasileiros – curtas, médias e longas-metragens – que traz a representação dessa luta e relembra fatos históricos e culturais importantes para a formação da sociedade. Para conferir, acesse as dicas de filmes disponíveis no perfil da UFPA no Instagram.
Protagonismo negro na Literatura – Sob a mesma perspectiva de possibilitar ao leitor se envolver com a história por meio da identificação, do aprendizado e da valorização, a Literatura também tem um papel valioso na promoção da reflexão acerca dos mais variados temas trabalhados em diferentes gêneros.
Para a estudante de Jornalismo Nayana Batista, autora de um perfil de dicas literárias, no contexto da educação para o combate à discriminação racial, a autoria e o protagonismo negros na literatura brasileira são imprescindíveis principalmente para a identificação do público infantil, que, muitas vezes, busca se espelhar nos personagens retratados. Especialmente em uma sociedade em que várias facetas da discriminação ocorrem de forma naturalizada, o potencial da literatura negra é imensurável para a autodefinição e para a autoestima negra e precisa ser mais valorizado.
“Por exemplo, durante o mês de novembro, o mês da consciência negra, eu busquei ir a fundo e li apenas autores negros e histórias com protagonismo negro, e propus no perfil 10 leituras, de diferentes gêneros, pra todo mundo ler. Foi uma experiência ótima. Houve muitos relatos de pessoas que leram um dos livros indicados e acabaram lendo vários outros livros dos mesmos autores, o que aconteceu comigo também. Tem muita literatura clássica e contemporânea de autores negros por aí. Por que não estamos lendo?”, questiona Nayana Batista.
O aumento desse consumo da literatura negra, instigado pela estudante, não somente ajuda a visibilização da produção de autores que nem sempre têm espaço no mercado editorial, como também estimula a discussão sobre questões raciais, influencia o fortalecimento da autoestima negra e encoraja o combate à discriminação racial. Para conhecer algumas obras de autores da literatura negra, confira as dicas de leituras disponíveis aqui.
Plataformas Digitais – Outras ferramentas que têm sido bastante utilizadas para a disseminação de conteúdos educativos são as plataformas digitais. No último ano, o número de canais, podcasts e perfis que passaram a abordar frequentemente os problemas e as consequências da discriminação racial para o desenvolvimento da sociedade multiplicaram-se. Inclusive, recentemente, a Unicef disponibilizou o podcast “Deixa que Eu Conto”, com conteúdo voltado para a educação étnico-racial do público infantil.
O podcast é totalmente gratuito e está dividido em duas séries: Amazônia, que conta histórias, brincadeiras e atividades sobre a cultura amazônica – incluindo histórias indígenas, ribeirinhas, quilombolas e os saberes da região; e Afro-Brasileiro, que destaca a cultura negra no Brasil e promove o enfrentamento ao racismo.
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Texto: Assessoria de Comunicação da UFPA
Arte: Mkt Ascom