O Telessaúde UFPA realizará a webconferência “Desafios da saúde indígena na atenção primária”, no dia 27 de fevereiro. O tema chama a atenção dos profissionais de saúde e da sociedade brasileira, em função da grave crise humanitária vivida pelos Yanomami, em Roraima. A situação da saúde indígena é uma preocupação em toda a Amazônia e por essa razão, a webconferência debaterá o tema com o médico e doutor em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz, Paulo Basta; a fisioterapeuta e especialista em Gestão de Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz, Jacqueline Nunes; e a médica indígena e mestre em Saúde, Sociedade e Ambiente na Amazônia, Eliniete Baniwa. O evento será às 18h, com acesso pelo site telessaude.ufpa.br e é voltado para médicos(as), enfermeiros(as) e profissionais da saúde atuantes na Atenção Primária à Saúde no Estado do Pará.
A situação de crise humanitária dos Yanomami resultou na criação de uma força-tarefa do governo federal, que montou um plano estratégico interministerial para nortear as ações para a recuperação da saúde da população indígena de Roraima, que se encontra com graves quadros de desnutrição e até mortes pela fome e em decorrência de contaminação ocasionada pelas atividades dos garimpos ilegais em suas terras. A estimativa é de que mais mil indígenas foram resgatados nos últimos dias em grave situação de saúde decorrente dos problemas que culminaram na crise humanitária, que tem chamado a atenção do país e do mundo todo.
Na esteira dessa situação, no Pará, foi criada, recentemente, a Secretaria Estadual de Povos Originários para dar maior atenção às questões indígenas. O novo órgão tem como secretária a indígena Puyr Tembé. E para abordar essa questão importante da saúde indígena, o Telessaúde está promovendo o debate “Desafios da saúde indígena na atenção primária”, com três profissionais que representam uma necessária diversidade de olhares sobre o tema.
O médico e pesquisador da Fiocruz, Paulo Basta, destaca que durante o evento apresentará dados demográficos, assim como a distribuição populacional dos povos indígenas que vivem no Brasil, nos dias atuais. Além disso, ele abordará “a forma como se estruturam os serviços de saúde destinados a essas populações, bem como alguns indicadores de saúde selecionados para ilustrar o cenário epidemiológico contemporâneo”. “Serão debatidas também as principais ameaças presentes nos territórios ancestrais na Amazônia e os efeitos sobre a saúde dos povos tradicionais”, destaca Basta, que também apresentará sugestões para endereçar os principais problemas identificados.
A fisioterapeuta Jacqueline Nunes vai abordar os desafios da saúde indígena no que diz respeito à gestão pública, uma vez que a mesma é uma estratégia do sistema de saúde que conta com premissas importantes; a eficiência e a eficácia para promover saúde de qualidade aos usuários. “A Integração é um processo que a gestão deve usufruir para coordenar e cooperar, reunindo os serviços assistenciais para a qualificação de um sistema de saúde”, ressalta a fisioterapeuta. “Como estrutura organizacional, a Secretaria de Saúde Indígena (Sesai) possui 34 DSEI distribuídos no Brasil e dispõe de uma rede de serviços de saúde dentro de seu território, que deve funcionar de forma articulada com a rede de serviços de saúde do SUS. Porém, na realidade, a atenção primária à saúde indígena sofre dificuldades para efetivar essa integração com a rede de serviços de saúde dos municípios e estados”, avalia.
A médica indígena Eliniete Baniwa, por sua vez, destaca que, dentre os muitos desafios da saúde indígena, estão a questão do próprio conhecimento da cultura indígena, como hábitos alimentares, entre outras questões. Além disso, segundo ela, a interculturalidade também é uma realidade, com a chegada da cultura não indígena, nos alimentos, nutrição e hábitos como o alcoolismo, que estão fazendo surgir novas doenças, chamadas de doenças emergentes, como doenças crônicas não transmissíveis, que se configuram como novos desafios. “Além disso, tem a questão da saúde mental, que precisa ser abordada com maior clareza sobre o que fazer. E vamos abordar ainda quais são as perspectivas de melhorias com essa nova gestão em que nós temos indígenas dentro da Secretaria de Saúde Indígena e a Secretaria dos Povos Originários”, ressaltou Baniwa.
Sobre os conferencistas: Paulo Cesar Basta é médico e doutor em Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Pesquisador Titular da Escola Nacional de Saúde Pública Sergio Arouca (ENSP), da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Jacqueline Nunes de Souza Fagundes Mendes é fisioterapeuta e especialista em Gestão de Saúde Pública pela Fundação Oswaldo Cruz. Assessora técnica da Secretaria de Atenção Primária à Saúde (SAPS) Membro do GT-Saude Indígena da Sociedade Brasileira de Medicina da Família e Comunidade(SBMFC). Eliniete Baniwa é médica, mestre em Saúde, Sociedade e Ambiente na Amazônia. Professora da Faculdade de Medicina Estácio de Castanhal (FMEC).
Texto e imagem: Assessoria de Comunicação do Telessaúde UFPA