Seminário discute obstrução climática e apresenta resultados de pesquisa internacional durante a COP 30

O Núcleo de Altos Estudos Amazônicos da Universidade Federal do Pará (NAEA-UFPA) promoveu, na última sexta-feira, 14, o Seminário “Obstrução Climática: Uma Avaliação Global”, em parceria com o Observatório Interdisciplinar de Mudanças Climáticas (OIMC) e a Climate Social Sciences Network (CSSN). O encontro integrou a programação do NAEA relacionada à COP 30 e apresentou os principais resultados da Coletânea Climate Obstruction: A Global Assessment, publicada pela Oxford University Press.

A mesa contou com a participação dos editores Timmons Roberts, professor da Brown University; e Carlos Milani, diretor do OIMC, além das professoras Marcela Vecchione e Edna Castro, do NAEA. A mediação foi conduzida pela professora Marcela, que destacou a continuidade da parceria entre as instituições e o papel central das Ciências Sociais e Humanidades no estudo da crise climática. “Há, muitas vezes, uma tentativa de desqualificar o tipo de conhecimento que produzimos como menos preciso ou menos científico. Isso também compõe a obstrução climática, para reduzir a legitimidade de pesquisas acadêmicas”, afirmou.

A docente também ressaltou a relevância da integridade da informação climática, tema presente tanto na obra quanto nas negociações da COP 30, especialmente nos debates sobre transição justa, mercado global de carbono e transparência no Acordo de Paris.

Em sua fala, Timmons Roberts revisitou sua relação com a Amazônia e lembrou sua primeira passagem pela UFPA há mais de três décadas. Ele apresentou a CSSN, que, atualmente, reúne cerca de 800 pesquisadores em 49 países, e explicou que compreender a obstrução climática exige reconhecer a atuação intencional de atores que dificultam avanços. “Pensávamos que relatórios científicos, boas tecnologias e políticas públicas sólidas seriam suficientes para impulsionar a transição. Estávamos enganados”, destacou. 

Ao comparar a ausência de debates sobre obstrução climática com narrativas incompletas, afirmou: “É como contar a história de Star Wars sem mencionar Darth Vader. A história simplesmente não faz sentido”. Roberts também descreveu a estrutura do livro, produzido por 110 autores que analisam setores como petróleo e gás, energia, agricultura e mídia, além de arenas institucionais como o IPCC, a UNFCCC e espaços de negociação multilateral.

Na sequência, Carlos Milani apresentou os dez principais resultados da avaliação global sobre obstrução climática, destacando, inicialmente, que a ação climática não pode ser dissociada das lutas socioambientais e que a interdisciplinaridade é fundamental para compreender a crise em sua complexidade. Ele ressaltou que a falta de ação não decorre da ausência de dados. “Não é por déficit de informação que não agimos em matéria de clima. Informações são abundantes. Precisamos entender quais são as estratégias e modalidades de ação que bloqueiam políticas climáticas”, completou.

Entre os resultados apresentados, o pesquisador enfatizou que a obstrução climática vai além do negacionismo explícito, como as ações sofisticadas de protelação; as grandes corporações de combustíveis fósseis e setores como o agronegócio, que exercem papel central nesse processo; e as associações empresariais, think tanks e empresas de relações públicas que funcionam como mediadoras importantes na construção de mensagens que moldam percepções sociais.

Milani também alertou para casos de judicialização contra cientistas em diversos países e para o risco enfrentado por defensores socioambientais no Brasil e no mundo. Segundo ele, compreender esses mecanismos é essencial para fortalecer estratégias de denúncia, monitoramento e atuação de movimentos sociais, ONGs e centros de pesquisa.

Ao final, o público participou com perguntas sobre as diferenças entre as edições da avaliação e a relevância das abordagens interdisciplinares. Os pesquisadores enfatizaram que enfrentar a obstrução climática é um passo indispensável para avançar nos processos de justiça climática e proteger territórios vulnerabilizados, especialmente na Amazônia.

TEXTO: Luan Cardoso – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

FOTOS: Manuela André e Luan Cardoso

Relação com os ODS da ONU:

ODS 13 - Ação Contra a Mudança Global do Clima

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