Estudos realizados por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) apontam graves problemas sociais, ambientais e políticos provocados pela instalação de dois grandes empreendimentos na Região do Xingu, no sudeste do Pará. O relatório das pesquisas sobre a Usina Hidrelétrica de Belo Monte e o Projeto Volta Grande da Mineração, empreendimento da mineradora canadense Belo Sun, foram apresentados nesta quinta-feria, dia 11 de janeiro, durante o Seminário “As Veias Abertas da Volta Grande do Xingu”.
A programação, realizada no auditório do Centro de Eventos Benedito Nunes, no Campus da UFPA em Belém, reuniu pesquisadores, representantes do Ministério Público Federal, de Movimentos Sociais e estudantes, para discutir os impactos causados por esses grandes projetos instalados na Região do Xingu.
De acordo com a pesquisadora Rosa Acevedo, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA/UFPA), o relatório levanta vários questionamentos referentes à instalação da mineradora canadense, que se propõe a explorar ouro na região. “A Belo Sun se instala numa área de projeto de assentamento que é de 1996 e observamos que ocorre um processo pouco claro sobre a chamada desafetação administrativa que é realizada pelo Incra. Tem, ainda, a questão dos indígenas da terra Paquiçamba que não foram consultados, e outro ponto grave está relacionado ao licenciamento ambiental, que implica numa série de problemas que não foram resolvidos, como por exemplo, o que vai ocorrer com o uso do cianeto, porque se trata de um projeto de mineração a céu aberto, que tem uma série de implicações ambientais que não são totalmente identificadas”, aponta a pesquiadora.
Rosa Acevedo explica que o levantamento sistemático dos dados foi realizado a partir de fontes como o Ministério Público e através de consultas a fontes secundárias, como jornais. “O que vai ser discutido aqui terá muita relevância para a questão de como podemos controlar o que as mineradoras trazem como proposta e o risco que se implica para uma grande área que vai ser afetada. Como se pode instalar a 13 km de distância da hidrelétrica de Belo Monte um empreendimento (Belo Sun) que vai produzir detonações que vão ter impactos sobre a própria estrutura da barragem?, questiona.
Para a coordenadora do Movimento Xingu Vivo para Sempre, Antônia Melo da Silva, a instalação desses empreendimentos é preocupante porque atinge não só a Volta Grande do Xingu, mas todo o curso da bacia do rio e a todos os povos da região. “Vivemos impactos monstruosos, crimes ambientais sem limites. O apoio de pesquisadores da UFPA tem sido fundamental para fortalecer a luta em defesa da vida do rio e dos seus povos”.
Desagravo – Além de abrir um espaço para debates sobre a intervenção socioambiental e política de grandes empreendimentos na Região do Xingu, o Seminário representou uma sessão de desagravo aos pesquisadores, aos grupos de investigação e à própria UFPA, pela violência que ocorreu no dia 29 de novembro de 2017, quando a realização do seminário foi interrompida. Naquela ocasião, o prefeito do município de Senador José Porfírio (PA), Dirceu Biancardi, coordenou a invasão ao auditório onde ocorria o seminário de pesquisa acadêmica na UFPA. Um grupo de pesquisadores, professores, estudantes e integrantes de movimentos sociais foi duramente hostilizado e impedido, por mais de 30 minutos, de sair do local.
O reitor Emmanuel Tourinho reiterou o papel da Universidade como instituição acadêmica e científica para investigar, difundir o conhecimento que produz e analisar criticamente todos os dados que são levantados. “A universidade em qualquer nação do mundo, só existe com autonomia. Ou há autonomia ou não há universidade, e nenhuma sociedade pode prescindir de uma instituição como a universidade, que produz conhecimento e pensa criticamente os problemas da sociedade, sem estar submetida a ingerências políticas ou interesses econômicos privados”.
O Seminário “Veias abertas da Volta Grande do Xingu” é resultado da parceria entre a Universidade Federal do Pará, a Faculdade de Etnodiversidade/ Campus Altamira (UFPA), a Universidade do Estado do Amazonas, os Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia e Cartografia da Cartografia, o Grupo de Pesquisa Lab Ampe (UFPA), a Fundação Rosa Luxemburgo, Cooperativa Mista dos Garimpeiros da Ressaca, Gallo, Ouro Verde e Ilha da Fazenda (COOMGRIF), o Movimento Xingu Vivo Para Sempre, com o apoio da Fundação Ford.
Texto: Ericka Pinto – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes