O Seminário "Desafios socioambientais e participação feminina", ocorrido nesta terça-feira, 6 de março, no Instituto de Ciências da Educação (ICED), trouxe reflexões sobre as questões de gênero, participação feminina, identidades e desafios socioambientais. O evento foi organizado pelo Grupo de pesquisa Avaliação Ambiental de Grandes Projetos na Amazônia (GAAMGPAM).
A mesa foi composta por militantes de movimentos sociais, Antonia Salgado e Elisety Veiga, do Conselho Estadual da Mulher, além das pesquisadoras Denise Machado Cardoso (GEPEM/UFPA) e Marilena Loureiro (GEAM/UFPA). A mediação foi feita pelo professor André Farias (PPGEDAM/NUMA).
Mulher e natureza – A professora Denise Cardoso ressaltou que a participação da mulher nos movimentos sociais quebra barreiras e elas estão cada vez mais atuantes, seja na pesca, na agricultura, seja nos riscos ambientais. Entre outros aspectos, a pesquisadora abordou a proximidade da mulher com a natureza, com o mundo natural.
"A mulher não é só natureza, a mulher não é só um ser biológico, não é determinada apenas pelos seus ciclos menstruais". Segundo a pesquisadora, estudos antropológicos mostram que, "às vezes, o ciclo biológico feminino causa uma certa insegurança no outro ser biológico, o homem, pois ele não consegue dominar essa parte da natureza. O homem civilizado é o ser que domina a natureza, externamente e a si mesmo (…) e aí as mulheres não conseguem ser dominadas totalmente, mesmo existindo toda uma lógica e estratégia de dominação. O ser humano não consegue dominar a menstruação, por exemplo. Assim, se percebe a mulher mais próxima da natureza.” Denise comenta, ainda, que à mulher foi permitido a intuição e ao homem a razão, embora isso esteja presente em ambos.
A professora enfatiza que a mulher desenvolve a consciência socioambiental e devemos olhar o outro como ser humano, sem preconceitos, pois trata-se de questão para além de gênero.
Trajetória de vida e luta – Antonia Salgado contou sua trajetória de vida e luta pelos direitos da mulher e nas questões dos conflitos socioambientais advindos com as instalações dos grandes projetos. Para ela, as mulheres precisam fortalecer a luta ainda mais, pois são elas que sofrem os maiores impactos ambientais, visto que são delegadas a elas o cuidado com o lar, com a saúde e a família. Já Elizey Veiga relatou que seu interesse por debater as questões de gênero iniciou há 30 anos, na UFPA, como estudante, e enfrentou muita dificuldade, pois não teve professores dispostos a orientá-la e o acesso a pesquisas ou literaturas sobre o assunto era muito difícil.
Identidade amazônica – Marilena Loureiro ressaltou os aspectos da identidade amazônica construída socialmente, que subjulga os sujeitos na lógica de subalternidade. "Isso está muito presente na literatura, na produção científica (nacional e internacional), nas nossas falas, nos nossos preconceitos, na forma como a gente olha pra gente, pras nossas populações (…), que o caboclo, incompreendido nas suas relações com a natureza e dinâmicas próprias, é tido como preguiçoso. Tudo isso vai construindo um ideário muito difícil de ser superado." Para a professora, "não dá para falar de defesa da Amazônia sem falar das populações tradicionais e seus saberes, e aí a questão da mulher, dos negros,dos indígenas são questões minoritárias e integradas a toda essa ampla dimensão de problemas. Tem a ver com a compreensão de quem nós somos e de como nós nos posicionamos nessa geopolítica. Se a gente consegue perceber a questão da mulher como central, a gente vai se perceber feminista." Marilena encerrou sua fala com uma frase de Paulo Freire, que simboliza a atuação conjunta do ser humano na resolução dos problemas ambientais: "Sem homens e sem mulheres, o verde não tem cor."
Outras atividades – O professor André Farias, após avaliar a qualidade do debate, propôs fomentar essas discussões sobre a participação feminina e sobre o meio ambiente por meio de um seminário, em Barcarena, por conta dos riscos ambientais da região.
Texto e fotos: Beatriz Aviz