A cada 40 segundos, uma pessoa no mundo comete suicídio. Esse dado da Organização Mundial de Saúde (OMS) revela a importância da atenção à saúde mental em nível global e dá destaque à Campanha brasileira de prevenção ao suicídio, iniciada em 2015. Este mês foi escolhido para a campanha porque, desde 2003, o dia 10 de setembro é o Dia Mundial de Prevenção ao Suicídio, já considerado um problema de saúde pública mundialmente. Em tempos em que estamos vivenciando a pandemia da Covid-19, os cuidados emocionais devem ser ainda redobrados, uma vez que o isolamento social pode agravar questões mentais que levem a esse ato extremo.
A psicóloga da Superintendência de Assistência Estudantil (Saest) da Universidade Federal do Pará Ludmila Cunha, atuante no Campus do Marajó – Soure, destaca que é muito importante haver campanhas que deem visibilidade à saúde mental, sendo que, ultimamente, tais campanhas têm ganhado mais força principalmente em relação às consequências que os adoecimentos mentais têm causado no mundo inteiro, a exemplo do aumento nos casos de suicídio.
“Tanto que a OMS traz dados que colocam a depressão, por exemplo, como uma das doenças mais incapacitantes da atualidade, possuindo efeitos em nível individual e também coletivo, inclusive com impactos na economia, pois a pessoa em sofrimento emocional pode produzir aquém da forma esperada, pode ter prejudicadas suas relações pessoais, tanto na vida privada quanto no trabalho. Outro ponto importante de se atentar é a necessidade de políticas públicas voltadas a ações preventivas ao suicídio, em conjunto com vários setores da sociedade”, explica Ludmila.
Segundo a psicóloga, falar abertamente sobre esses adoecimentos em relação à saúde mental é muito importante, pois é dando voz a essas questões que elas costumam iniciar um tipo de resolução, uma vez que colocando-as para fora se desmistifica muitas questões, inclusive sobre o suicídio. “Ao evidenciar os sentimentos, a pessoa pode experimentar a aceitação e compreensão de outros em relação ao sofrimento existencial/psicológico vivenciado. Isso pode repercutir de maneira positiva na forma em que esta pessoa passa a conviver com a dor. Quando se sente acolhida, entendida e de fato escutada em relação ao que sente, pode haver mudanças em relação às possibilidades de se lidar com esse sofrimento”.
Geralmente quando alguém tenta o suicídio, apresenta uma longa caminhada em busca a sanar as dores sentidas. “A escuta e o acolhimento profissionais podem possibilitar à pessoa em sofrimento uma perspectiva diferente em relação às possibilidades existentes para se lidar com o sofrimento. De um ponto de vista mais individual, essas questões lançam luz à nossa responsabilidade também em ouvir, estar atento e acolher o outro dentro das nossas possibilidades”, revela Ludmila Cunha.
Pós-pandemia – E nesse momento de isolamento social, tem sido fundamental a criação de espaços para troca de experiências e desabafos, em que muitas pessoas dividem sentimentos e pensamentos parecidos e já não se sentem mais tão sozinhas diante do sofrimento psicológico. “As relações que as pessoas tinham até antes da pandemia mudaram, a forma de estar presente mudou, o próprio luto que vem da perda de pessoas queridas, hoje, é vivenciado de maneiras diferenciadas… tudo isso traz impactos para a saúde mental”, continua a psicóloga.
Nessa conjuntura, o estudante universitário, por exemplo, também tem impacto na saúde mental diante de algumas incertezas em relação à continuação do seu curso, de voltar ou não às aulas, seja em caráter remoto, seja presencialmente, o adiamento de sua entrada no mercado de trabalho etc. Tornando essenciais as ações que viabilizem o cuidado com a dor da pessoa que está em sofrimento.
Serviços disponíveis – A UFPA, de uma forma geral, tem algumas ações e serviços voltados para o acolhimento de pessoas que estão apresentando sintomas em sua saúde mental. Dois serviços que já existem há algum tempo são os atendimentos na Clínica de Psicologia, que oferece tanto atenção psicológica quanto psiquiátrica para a comunidade acadêmica e para a externa, de forma totalmente gratuita, e o Serviço de Atenção Psicossocial – SAPS, projeto do Instituto de Ciências da Saúde (ICS) que disponibiliza, de maneira gratuita, atendimentos clínicos nas áreas de Psicologia, Psiquiatria e Assistência Social a estudantes da Universidade que estiverem em situação de adoecimento psicológico.
Além desses serviços, a Saest conta com uma equipe que também faz acolhimento principalmente a estudantes em situação de vulnerabilidade socioeconômica que estejam passando por sofrimento emocional e psicológico. Essa equipe funciona tanto em Belém como nos campi, incluído profissionais de Psicologia, Serviço Social e Pedagogia, os quais fazem um acolhimento denominado triê, que abrange o acompanhamento emocional, socioeconômico e o acadêmico-pedagógico, permeado por encaminhamentos a outras especialidades de tratamento médico, quando necessário, por meio de programas como o Estudante Saudável, também disponibilizado pela Saest.
Na última pesquisa nacional do perfil socioacadêmico universitário realizada pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), com relação à saúde mental, 62% dos estudantes das IFES relatam que questões emocionais impactam diretamente em relação à motivação que eles têm em estudar e/ou concluir seus cursos, o que, de fato, reflete nas taxas de permanência/evasão na graduação e no desempenho acadêmico. “Daí a importância de haver profissionais da área de Saúde Mental atuantes no contexto educacional de modo a promover ações voltadas aos cuidados à saúde física e emocional/mental dos estudantes e dos demais atores sociais desse contexto. Sabemos que essas equipes não conseguem alcançar todos os estudantes universitários em situação de risco, porém a Universidade vem disponibilizando esses serviços de modo a alcançar grande parte do público que deles necessitem, ampliando esse atendimento com um olhar mais humanizado”, resume a psicóloga.
As ações vão desde acolhimento individual a sessões de discussão em grupo e atividades de lazer, como salas de cinema e bate-papo. Nos campi do interior, essas ações também envolvem parcerias com os Centros de Atenção Psicossocial – Caps e os Centros de Referência de Assistência Social – Cras dos municípios, atingindo a maior quantidade de pessoas. Atualmente, no contexto da pandemia, esses atendimentos estão ocorrendo também por telefone e de maneira on-line.
“É importante destacar que o sofrimento emocional, adoecimento mental, não ocorre apenas em setembro, e sim o ano todo, todos os dias, nas mais diversas faixas etárias e classes econômicas, sobretudo entre os grupos historicamente invisibilizados, porém o fator socioeconômico pode ser um complicador ao iniciar e manter os cuidados psicológicos, haja vista os altos custos de acompanhamento profissional particular e as necessidades de maiores investimentos em políticas públicas de atenção à Saúde Mental. No entanto existem iniciativas que prestam escutas focais em situação de crise, como o Centro de Valorização à Vida – CVV, que funciona 24h, por meio do número 188, além dos diversos serviços disponibilizados pelo Sistema Único de Saúde – SUS, nos Centro de Atenção Psicossocial- CAPS, como atendimento psicológico, psiquiátrico, oficinas, atendimentos em grupos, entre outros, todos disponibilizados de forma gratuita à população, voltados para a atenção à saúde mental”, conclui Ludmila Cunha.
Serviço
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Informações sobre o Saps pelo e-mail sapssecretaria@ufpa.br.
Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação da UFPA
Arte: Mkt Ascom/UFPA