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TAMANHO DA FONTE

Solenidade marcará outorga do título de professora emérita a Jane Beltrão

Ela pesquisa Amazônia na Amazônia. Jane Felipe Beltrão chegou à Universidade Federal do Pará como caloura no curso de História, em 1970. Dez anos depois, ingressava como pesquisadora do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA). Vivendo a UFPA há mais de 50 anos, 44 deles como docente, Jane Beltrão coleciona feitos que a levaram ao reconhecimento do título de professora emérita da Instituição. A solenidade de outorga será realizada na próxima segunda-feira, 26, no Centro de Convenções Benedito Nunes, às 17h.

A concessão do título foi aprovada por unanimidade pelo Conselho Superior de Ensino, Pesquisa e Extensão da UFPA (Consepe), em sessão realizada no dia 13 de dezembro de 2023. A honraria é concedida a professores de grande competência que se destacam por atividades didáticas e de pesquisa e que contribuem, de modo notável, para o progresso da ciência na UFPA. 

“Entendo, sinceramente, que, na academia, o que existe de mais caro são nossas referências: intelectuais, éticas e morais. Nossas(os) grandes mestras(es) são aquelas(es) que forjam suas condutas a partir da vigilância constante desses aspectos. São elas(e) que fazem com que as utopias sejam possíveis e a universidade seja o que é. Elas(es) são a alma, o espírito, o que move todo esse mundo denominado universidade pública. São guardiãs(ões) e guerreiras(os), defensoras(es) de todo esse patrimônio nacional. Nessa jornada,  participam das decisões mais difíceis e cruciais de nossa história, sendo, por isso, fundamentais para tudo o que é necessário ao presente e ao futuro. Jane Felipe Beltrão representa essa universidade”, destacou a conselheira Maria Ataide Malcher, autora do parecer que recomendou a aprovação da concessão do título pelo Consepe.

Relatos – O documento elaborado reúne uma série de depoimentos de quem testemunhou/testemunha a singular trajetória de Jane Beltrão no cenário acadêmico. “Quem a conhece sabe que as labutas não foram poucas, mas nunca esmoreceu, fez dos desafios seu impulso para grandes feitos, nunca se acomodou nem se conformou, sempre à frente do seu tempo agregou parcerias e protagonizou o maior Programa de Ação Afirmativa para Pessoas Indígenas e Quilombolas na UFPA”, destaca no texto a professora Rosani de Fátima Fernandes, responsável pelo dossiê que embasou o parecer favorável.

“Falar de Jane Beltrão é falar de dedicação, de excelência e de compromisso com os povos indígenas e demais povos tradicionais do Brasil, sua trajetória docente se funde com a história das políticas afirmativas no Norte do país e para além disso, com o projeto de emancipação de nosso povo, no qual ela desempenhou, com esmero, sempre um papel de destaque. Na Universidade Federal do Pará, sempre esteve na vanguarda das políticas afirmativas, atuando na formação de nós, indígenas, mas também de muitos quilombolas e de outros povos tradicionais”, defende o coordenador do curso de Etnodesenvolvimento do Campus de Altamira, Uwira Xakriabá.

Companheira de magistério e luta, a professora emérita Zélia Amador de Deus também evidenciou as qualidades de Beltrão pela diversidade. “Depois de muitas idas e vindas, muitos embates, hoje, temos uma universidade capaz de se orgulhar da diversidade que abriga. Devo dizer que Jane sempre lutou muito para que tal acontecesse. Nessa linha de raciocínio, a professora Jane sempre foi emérita, nunca abriu mão de seus sonhos”.

Trajetória – Jane Beltrão é mestre em Antropologia Social e doutora em História. É vinculada ao Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da UFPA (IFCH), atuando como docente permanente nos Programas de Pós-Graduação em Antropologia e em Direito, em que se destaca como “acadêmica e militante pelo respeito aos direitos étnico-raciais e sociais constitucionais”. Bolsista de produtividade em pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) nível 1B, forma e orienta novos profissionais e pesquisadores nas áreas de Antropologia, Direito e Saúde, sob perspectiva interdisciplinar. 

Na UFPA, foi representante dos professores auxiliares junto à Comissão Permanente de Pessoal Docente (CPPD); chefe do Departamento de História e Antropologia no CFCH; diretora do Museu da UFPA (MUFPA); diretora do Departamento de Pesquisa da Pró-Reitoria de Pesquisa e Pós-Graduação (Propesp); diretora do Departamento Cultural da Pró-Reitoria de Extensão e Natureza Estudantil (Proex); assessora dos pró-reitores de Pesquisa e Pós-Graduação, Netuno Vilas e  Cristovam Diniz, e, também, da diretora do Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB),  doutora Elisa Vianna Sá; além de ter conduzido a comissão de criação do MUFPA e a implantação do Programa de Iniciação Científica (Pibic) na UFPA, em 1985. 

Também coordenou o Programa de Extensão Participativa, patrocinado pela Organização dos Estados Americanos (OEA), na Proex; e prestou assessoria ao Hospital Universitário João de Barros Barreto (HUJBB) durante a segunda epidemia de cólera no Pará, em 1991. Já esteve à frente da Coordenação do Mestrado em Antropologia no IFCH/UFPA; participou da criação e atuou na docência dos cursos de Pós-Graduação em Ciências Sociais e em Antropologia (PPGA). 

Como pioneira e referência nas Políticas de Ação Afirmativa para Povos Indígenas e Quilombolas no Norte do Brasil, esteve na coordenação do Programa de Ação Afirmativa para Povos Indígenas e Populações Tradicionais da UFPA (Papit), no qual protagonizou a criação da Política de Inclusão de Pessoas Indígenas e Quilombolas por meio da reserva de duas vagas em todos os cursos de Graduação e campi da UFPA, via Processo Seletivo Especial. Ela também protagonizou a criação do curso de Etnodesenvolvimento e da Faculdade de Etnodiversidade na UFPA de Altamira, voltado para povos indígenas e populações tradicionais (agricultores, ribeirinhos, pescadores). 

Mais recentemente, Jane Beltrão coordena, com o professor José Héder Benatti, o Projeto Diversidade Étnico-Racial e os Direitos Territoriais na Amazônia para Indígenas e Quilombolas na UFPA e participou ativamente da implementação do curso de Mestrado e Doutorado Intervalar para Indígenas e Quilombolas na UFPA, no Instituto de Ciências Jurídicas (ICJ).

“O título de professor(a) emérito(a) merece ser concedido a docente com uma contribuição que transcenda as atribuições regulares em sua unidade de origem e impacte o destino da instituição de um modo considerável. Esse é o caso da professora Jane Beltrão, tanto pela atuação em diferentes esferas de organização e gestão da UFPA, quanto por sua contribuição para a formulação de políticas institucionais, em especial as políticas de ação afirmativa, que colocaram a UFPA em um patamar diferenciado no esforço para promover a inclusão de povos tradicionais e populações com baixa taxa de acesso à educação superior pública”, defendeu o reitor da UFPA, Emmanuel Zagury Tourinho, que submeteu ao Conselho a proposição de concessão do título à professora.

TEXTO: Edmê Gomes Paixão, com informações e relatos do Parecer Consepe

ARTES: Cerimonial UFPA

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