Diante de uma plateia muito maior que a capacidade do auditório, a solenidade de abertura das atividades afro e indígena, da 76ª Reunião Anual da SBPC, foi realizada no grande salão da tenda, fora do auditório. Até o dia 13 de julho, representantes e lideranças de comunidades negras, indígenas e de religiões de matriz africana estarão reunidos para discutir questões como conhecimentos tradicionais, relações étnico-raciais, ações afirmativas, segurança e racismo ambiental, conflitos socioambientais, resistência indígena, marco temporal e educação quilombola. A programação, aberta ao público, inclui atividades culturais a serem realizadas todos os dias, com apresentação de grupos musicais, entre os quais, Carimbó de Santarém Novo, Marujada de Bragança, Roda de Capoeira, Banda Afro Axé Dudu, Hip Hop, oficinas e lançamento de livros.
Desde 2014, quando a Reunião da SBPC foi realizada em Rio Branco, Acre, afros e indígenas participam com tenda própria no evento. “Este é um espaço que temos que garantir na SBPC porque este é um espaço do conhecimento, também do conhecimento ancestral, do conhecimento cultural”, enfatizou a professora Zélia Amador de Deus, coordenadora da Assessoria da Diversidade e Inclusão Social da UFPA, na cerimônia realizada na tarde desta segunda-feira. Puyr Tembé, primeira secretária de Estado dos Povos Indígenas, fez pronunciamento em que destacou que o saber tradicional dos povos indígenas vem demonstrando que tudo está conectado e, portanto, é dessa maneira que tem sentido fazer pesquisa e produzir ciência.
Estudante de Graduação em História da UFPA, Jhosy Galibi, da Associação dos Povos Indígenas Estudantes na UFPA (Apyeufpa), disse que os estudantes indígenas ainda se defrontam com os mesmos desafios que os primeiros indígenas enfrentaram ao estudar na universidade. “Nosso maior desafio é ampliar respeito à diversidade, conquistar reconhecimento e lutar pela diminuição do racismo ainda existente dentro das universidades, infelizmente”, pontuou. Participando da SBPC pela primeira vez, ela disse estar se sentindo acolhida porque a Reunião abriu espaço para que afros e indígenas possam debater seus problemas e experiências científicas, assim como porque a Apyeufpa está participando da organização do evento.
Para Zélia Amador de Deus, a inserção de quilombolas, indígenas e povos tradicionais nas universidades federais, por meio de políticas afirmativas, não corre mais nenhum risco de retrocesso. “Temos um novo projeto de lei que vai alcançar, inclusive, a pós-graduação. Então este é um caminho que não tem mais volta. Esta universidade não vai retornar a um tempo de poucas luzes. Os Conselhos Universitários são autônomos. A UFPA é uma das universidades que sempre trabalharam aproveitando a autonomia de seus Conselhos para aumentar a presença indígena e a presença quilombola aqui dentro. Somos a universidade que temos o maior número de povos indígenas e de quilombolas”, afirmou. Zélia Amador considera, no entanto, que há desafios, um deles, conseguir “aquilombar” os docentes, ou seja, fazer com que eles entendam a importância de aprender e conviver com os povos tradicionais da Amazônia.