A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes) divulgou o resultado preliminar do Prêmio Capes de Tese 2023 e, entre as 1.469 pesquisas inscritas, duas teses desenvolvidas por pesquisadores da Universidade Federal do Pará (UFPA) tiveram destaque. Na categoria “Comunicação e Informação”, a tese premiada foi Ativismo de mulheres indígenas em ambientes digitais: diálogos sobre (de)colonialidades e resistências comunicativas, de Lorena Esteves, já na categoria “Ciências Biológicas III”, a tese Perfil imunogenético do HLA de classe I e II em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana 1 (HIV-1) e do Vírus Epstein Barr (EBV), de Leonn Pereira, recebeu menção honrosa.
Defendida no Programa de Pós-Graduação em Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCOM), do Instituto de Letras e Comunicação (ILC), e orientada professora Danila Cal, a tese de Lorena Esteves discute o ativismo digital de mulheres indígenas que estão na linha de frente do Movimento Indígena Brasileiro, protagonizando a luta coletiva contra opressões interseccionais que atravessam seus corpos-territórios. A investigação se propõe a identificar e a analisar os sentidos produzidos por essas mulheres em seus processos de resistência durante o Acampamento Terra Livre do ano de 2020. O trabalho evidencia as opressões que recaem sobre os corpos-territórios de mulheres indígenas, como violências, racismo, machismo, assim como as consequências da não demarcação de terras, da invasão de terras, do garimpo e, ainda, o papel da Comunicação como uma dimensão central nos processos de resistência a essas opressões, demonstrando formas de atuação individual e coletiva de mulheres indígenas em ambientes digitais, na conquista de espaços e de direitos.
"O reconhecimento a esse trabalho tem muitas camadas de simbolismo. Um dos principais é trazer visibilidade para o tema necessário e urgente das opressões e resistências de mulheres indígenas, em cenário de crise humanitária. Também é simbólico por nascer a partir do diálogo com mulheres indígenas, em uma proposta teórico-metodológica decolonial e pelo fato de autora e orientadora serem mulheres nortistas, amazônidas, situadas em contexto geopolítico subalternizado, especialmente no âmbito da pesquisa científica”, comenta a autora Lorena Esteves.
Antes de ser reconhecido pelo Prêmio Capes de Tese, o trabalho desenvolvido por Lorena também já havia ficado em primeiro lugar na categoria tese do Prêmio Intercom 2023, da Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares da Comunicação, e recebido menção honrosa no Prêmio Compolítica de Teses 2023, da Associação Brasileira de Pesquisadores em Comunicação e Política (Compolítica).
“Os reconhecimentos que a tese tem recebido mostram o quanto esse caminho de pesquisa é fundamental e necessário para a construção do conhecimento na área da Comunicação e Informação. Além disso, ressalta a qualidade do trabalho desenvolvido e o empenho da comunidade do PPGCOM-UFPA para produzir ciência a partir da Amazônia”, ressalta a orientadora da pesquisa, Danila Cal.
A tese Ativismo de mulheres indígenas em ambientes digitais: diálogos sobre (de)colonialidades e resistências comunicativas foi desenvolvida no âmbito do Projeto “Ecoaras: Comunicação, Democracia e Modos de (R)Existência de Mulheres na Amazônia” (UFPA/CNPq), coordenado pelo Grupo de Pesquisa Comunicação, Política e Amazônia – Compoa (PPGCOM-UFPA), com financiamento do CNPq. Para construção da pesquisa, a autora também contou com a parceria do “Observatório de Comunicação, Culturas e Resistências na Pan-Amazônia” (PPGCOM-UFPA).
Menção honrosa – Outra tese desenvolvida na UFPA que também teve destaque no Prêmio Capes de Tese 2023 foi Perfil imunogenético do HLA de classe I e II em pacientes portadores do vírus da imunodeficiência humana 1 (HIV-1) e do Vírus Epstein Barr (EBV), que recebeu menção honrosa na categoria “Ciências Biológicas III”. Resultado de uma parceria interinstitucional entre os Laboratórios de Virologia da UFPA (Labvir) e de Vírus Epstein‒Barr do Instituto Evandro Chagas, a tese tem autoria de Leonn Mendes Soares Pereira, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Biologia de Agentes Infecciosos e Parasitários (PPGBAIP) do Instituto de Ciências Biológicas (ICB/UFPA), com orientação do professor Antonio Carlos Vallinoto (Labvir/UFPA), e participação dos pesquisadores Igor Brasil e Felipe Bonfim, entre outros (Evandro Chagas).
“Muito embora a infecção pelo HIV-1 já seja amplamente conhecida, ainda hoje há uma carência de estudos que abordem aspectos multifatoriais relacionados à coinfecção por HIV-1 e Epstein-Barr vírus (EBV), em especial, na Amazônia brasileira. O estudo teve como objetivo investigar os aspectos epidemiológicos, imunológicos e genéticos (gene HLA, locus A, B e DRB1) em uma coorte de jovens adultos infectados por estes vírus. Em resumo, os resultados nos mostraram como a presença da coinfecção pelo EBV e o perfil genético do hospedeiro podem modular a infecção pelo HIV-1”, comenta o orientador da pesquisa, Antonio Carlos Vallinoto.
Para alcançar esses resultados, foi analisado o perfil genético do HLA entre indivíduos com HIV, indivíduos que estavam coinfectados com HIV e o Vírus Epstein Barr, indivíduos com Vírus Epstein Barr e um grupo controle não infectado. A análise imunológica foi feita com base em dados de bancos da Casa Dias, do Instituto Evandro Chagas e do Hemopa, e, entre os principais achados da pesquisa, estão: que o histórico de infecções sexualmente transmissíveis foi indicador associado à infecção por HIV-1 e à coinfecção HIV/EBV; que o genótipo EBV-2 do vírus Epstein-Barr foi associado a baixos níveis de carga viral do HIV-1, diferente do observado para o genótipo EBV-1; que os alelos HLA-B*13, B*35 e B*39 do HLA de classe I foram associados à falha na resposta terapêutica em pacientes HIV e que os alelos HLA-DRB1*03, DRB1*09 e DRB1*16 foram associados à manutenção imunológica em diferentes fases da infecção por EBV.
“Encontramos uma associação de três variações genéticas do locus-B, que foram associados a não evolução dos pacientes sob tratamento. Então aqueles indivíduos que tinham esta variação genética, mesmo fazendo tratamento para HIV, eles não conseguiam uma boa resposta, o que chamamos de não respondedores terapêuticos”, explica o pesquisador Leonn Pereira.
O trabalho, que já rendeu a publicação de três artigos em revistas científicas e conta com mais três em produção, continua em desenvolvimento de forma multicêntrica, para que possa cooperar ainda mais com a ciência desenvolvida na Amazônia, especialmente neste momento em que muitos olhos estão voltados para a região. Agora, a expectativa é que, com reconhecimento de sua importância pela premiação promovida pela Capes, a ciência desenvolvida aqui possa ser mais vista pelo mundo e isso retorne em mais investimentos para o desenvolvimento científico local.
“Eu me sinto grato a todos. É uma forma de representar a Amazônia, o nosso estado e a Região Norte, que, muitas vezes, se torna negligenciada, fica nos bastidores, e esquecem que aqui também realizamos trabalhos e projetos de ponta, capazes de concorrer com projetos que são realizados em regiões de maior investimento tecnológico e educacional. Para nós, da Amazônia, isso é um marco interessante, isso contribui, de forma muito gratificante, para a Ciência na Amazônia”, ressaltou Leonn Pereira, ao agradecer a todos que colaboram com o desenvolvimento de sua tese e seguem com ele produzindo conhecimento na região.
Texto: Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA e Programa de Pós-Graduação Comunicação, Cultura e Amazônia (PPGCom)
Fotos: Capes e Arquivo pessoal