A Universidade Federal do Pará (UFPA) apresentou ao público, nesta segunda-feira, 17 de fevereiro, o projeto do prédio do Cinema, Livraria e Editora da UFPA, que já teve a primeira etapa da obra iniciada com recursos viabilizados por emendas parlamentares. A construção está localizada em frente ao prédio da Reitoria, no Campus Guamá. O evento ocorreu na Secretaria Geral dos Conselhos Superiores Deliberativos (SEGE) e contou com a participação de docentes, técnicos-administrativos e discentes da Instituição. Também participaram da sessão personalidades locais da produção audiovisual e da crítica cinematográfica, como Pedro Veriano e os professores Maria Luzia Miranda Álvares e Marco Antônio Moreira.
A mesa de apresentação foi composta pelo reitor da UFPA, professor Emmanuel Zagury Tourinho; pelo senador Paulo Rocha e pelo deputado federal Edmilson Rodrigues, ambos autores das emendas que garantiram o início das obras; além da diretora do Instituto de Ciências da Arte (ICA/UFPA), Adriana Azulay; da diretora da Faculdade de Artes Visuais (Fav/UFPA), Ana Cláudia Melo; do coordenador do curso de Cinema e Audiovisual da UFPA, Bruno Assis; da professora do curso de Cinema e Audiovisual da UFPA, Jorane Castro; e da diretora da Editora da UFPA (ed.ufpa), Márcia Brito.
A professora Adriana Azulay abriu a sessão com a interpretação ao piano das canções temas dos filmes Cinema Paradiso (1988) e Joana Francesa (1973), composições de Ênio Morricone e Chico Buarque, respectivamente.
Conhecendo o projeto – Na sequência da cerimônia, o projeto arquitetônico da obra foi apresentado pelo arquiteto Caíque Lobo, egresso da Escola de Aplicação da UFPA. Segundo ele, foram cinco anos de trabalho na proposta para chegar ao resultado exibido à comunidade universitária. A ideia é integrar, em um mesmo prédio, o Cine UFPA, uma livraria com café e a sede administrativa da Editora. Portanto o prédio será dividido em três espaços, sendo 465,18 m2 destinados ao cinema, 1.175,73 m2 destinados à Editora e 918,96 m2, à livraria, totalizando 2.643,24 m2 de área construída. Toda a obra está sendo concebida de maneira a garantir acessibilidade, tanto para funcionários quanto para visitantes de modo geral.
O cinema terá capacidade de 188 lugares, além de 4 vagas reservadas para pessoas com deficiência, e tem como referência salas como as do Cinema Olympia e as do Cine Líbero Luxardo, de Belém, além das do Cinefilx JK, de Brasília. A livraria foi pensada com base em referências como a Livraria Cultura e a Livraria da Vila, ambas de São Paulo, “com a expectativa de que seja não apenas um local de venda de livros, como também de contemplação, uma vez que se poderá ler um livro enquanto se toma um café com vista para o rio que permeia a Universidade”, afirmou o arquiteto. Já o espaço da Editora será projetado para abrigar todos os setores da unidade, inclusive um moderno almoxarifado, que hoje funciona em um local que se tornou insuficiente para as atividades que são realizadas.
Sustentabilidade – O prédio terá revestimento externo de concreto e tijolo aparente, levando em consideração referências locais e ambientais que remetem à cultura e à sustentabilidade amazônicas, priorizando o uso de elementos rústicos, como madeira, mobiliário brasileiro, luz natural e paisagismo que preserve as especificidades da área destinada à construção, a qual atualmente é ladeada por um bosque e pelo conhecido bambuzal. O projeto prevê, ainda, áreas externas de convivência e relaxamento, um espelho d’água e um foyer.
Os projetos complementares foram concebidos com a participação de professores, discentes, técnicos e profissionais em atuação nos grupos de pesquisa da própria UFPA, das áreas de estrutura, sob a liderança do professor Sandoval RodriguesJúlio AlencarCarminda CarvalhoHélio AlmeidaArlete Marinhoaqui.
O engenheiro civil e mestrando em Arquitetura e Urbanismo, Paulo Chagas, representando a professora Elcione Moraes, responsável pelo Laboratório de Acústica da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo (FAU/UFPA), apresentou o projeto acústico do cinema. Ele mostrou que a sala terá um acesso independente do restante do prédio, tratamento e isolamento acústico com revestimentos amadeirados nas paredes e forro com efeito de céu estrelado. As poltronas serão revestidas em tecido cor de açaí e o piso em cor terracota.
Homenagem – Por decisão da Reitoria, o foyer da sala de cinema terá um painel em homenagem à professora da UFPA Maria Luzia Miranda Álvares, crítica de cinema e entusiasta da sétima arte em Belém. Sua trajetória de vida foi apresentada pelo também professor e crítico de cinema Marco Antônio Moreira, doutorando do Programa de Pós-Graduação em Artes da UFPA. Ele destacou que, como crítica de cinema e cineclubista, Luzia colaborou intensamente com o cenário audiovisual paraense e “realizou ações de cultura cinematográfica quando poucas mulheres estavam envolvidas nesse tipo de atuação” participando também ativamente das atividades da Associação de Críticos de Cinema do Estado do Pará (ACCPA), a partir de 1967.
A professora Luzia agradeceu a homenagem e parabenizou a gestão pela “coragem e audácia” em realizar um projeto como esse no atual contexto histórico e social. “Enquanto muitos destroem a arte, a UFPA está construindo um plano de cidadania, porque cinema é vida”, disse em entrevista ao final do evento.
Sonho que se torna realidade – A professora Jorane Castro, roteirista e diretora de cinema paraense, falou, de maneira emocionada, que foi convidada a participar do projeto de criação do Cine UFPA tendo “autorização para sonhar” um projeto que favorecerá toda a Universidade, na medida em que visa gerar “um lugar de congregação, de encontros e de vivências não apenas com finalidades acadêmicas e pedagógicas, mas também com vistas a incentivar o pensamento sobre a arte, a cultura e a sociedade, estendendo seu uso a todas as áreas de pesquisa e também à comunidade”.
A professora Jorane explicou, ainda, que a concepção do projeto contou com parcerias como a de Alfredo Manevy, da Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC), com perspectivas de estabelecer uma Rede de Cinema Universitário, projeto aprovado pela Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes) e apresentado à Agência Nacional de Cinema (Ancine) durante a 172ª Reunião Ordinária do Conselho Pleno da Andifes, realizada em Belém, em julho de 2018, sob a presidência do reitor da UFPA, Emmanuel Tourinho, com o apoio da então presidente da Ancine, Débora Ivanov, também lembrada na cerimônia. Os agradecimentos ainda foram direcionados à Ana Louback Lopes, do Spcine, rede financiadora e de distribuição/exibição de filmes da Prefeitura de São Paulo.
O Cine UFPA terá uma grade de exibição de filmes para o público interno e externo da Instituição, nos períodos da tarde e da noite, e atividades didáticas pela parte da manhã, a exemplo de aulas dos cursos FAV. O professor Bruno Assis disse que o sentimento é de gratidão por ter a oportunidade de contar com um espaço como o Cine UFPA para a formação, a experimentação, o diálogo e a pesquisa sobre cinema no estado. “O curso de Cinema e Audiovisual da UFPA está em vias de completar 10 anos e já poderá contar com uma sala de projeção. A experiência imersiva no cinema é diferente e extremamente importante para a produção de conhecimento na área”, afirmou. A professora Ana Cláudia Melo lembrou que a apresentação do projeto é motivo de comemoração em tempos tão difíceis na área da arte. “Certamente é um estímulo para nos mantermos fortes em defesa da Universidade Pública, já que se trata de um projeto que segue na direção da democratização do conhecimento e do acesso à cultura, visto que o cinema hoje está restrito a complexos comerciais que dedicam pouco ou nenhum espaço à produção nacional, que dirá local”, destacou. O apoio “total e incondicional” da atual gestão da UFPA às artes também foi lembrado pela diretora do ICA/UFPA, Adriana Azulay.
Márcia Brito, diretora da Editora da UFPA, recordou que o projeto inicial da obra foi todo idealizado por Simone Neno, que dirigiu a ed.ufpa de 2009 a 2016 e, hoje, atua como coordenadora editorial. Ela ressaltou que o início das obras do prédio representa a realização de um sonho antigo, que é ter um prédio que possa atender, com conforto e segurança, tanto aos profissionais que atuam no órgão quanto ao público que usufrui e necessita dos serviços ofertados.
Formação cultural e resistência – As apresentações seguiram com as explanações do deputado federal Edmilson Rodrigues e do senador Paulo Rocha, que disponibilizaram os recursos necessários para a execução da primeira fase do projeto por meio de emendas parlamentares individuais, somadas a verbas próprias da UFPA. O orçamento para as próximas etapas também já está garantido por meio de novas emendas. Edmilson destacou que se sente privilegiado em contribuir com a “construção não de um prédio qualquer, mas com um projeto que vai colaborar para a formação de profissionais e cidadãos”. Paulo Rocha também destacou a importância da formação cultural e vê a colaboração com o projeto da UFPA como uma forma de resistência, uma vez que “as emendas parlamentares puderam auxiliar não somente a UFPA como também outras universidades paraenses e também os institutos federais de ensino e pesquisa nesse tempo de crise e cortes orçamentários”.
O reitor Emmanuel Tourinho agradeceu aos parlamentares que disponibilizaram os recursos para o início das obras e a toda a equipe da Universidade que colaborou para a concepção do projeto. Na ocasião, também foram dados os devidos créditos à participação de professores e de estudantes da UFPA, de diferentes áreas da Engenharia e da Arquitetura, além de equipes de trabalho da Editora da UFPA, da Prefeitura Multicampi, da Coordenadoria de Acessibilidade (CoAcess), do Centro de Tecnologia da Informação e Comunicação (CTIC) e do Núcleo de Inovação e Tecnologias Aplicadas a Ensino e Extensão (NITAE2), da Pró-Reitoria de Administração (PROAD)/Comissão Própria de Licitação (CPL), entre outros.
Emmanuel Tourinho disse que o projeto cumpre basicamente duas funções: a primeira, de alargar o horizonte de formação de estudantes da UFPA das mais diversas áreas, proporcionando à comunidade experiências culturais mais ricas e diversas; e a segunda, de democratizar o acesso ao cinema e à cultura, colaborando para uma formação crítica e cidadã. Para ele, o Cine UFPA será um estímulo também à produção local e à realização de festivais universitários de cinema, como o "Toró – Festival Audiovisual Universitário de Belém", organizado pelo Núcleo de Produção Audiovisual (NUPA), projeto de extensão do curso de Cinema e Audiovisual da UFPA, e o “Festival do Filme Etnográfico do Pará”, organizado pelo Grupo de Pesquisa em Antropologia Visual e da Imagem (Visagem), do curso de Ciências Sociais e do Programa de Pós-Graduação em Sociologia e Antropologia (PPGSA) da UFPA, entre outros.
Já a nova livraria será um convite à exploração das letras e da leitura, bem como de valorização dos autores locais. Além disso, mencionou a importância e a qualidade do trabalho que vem sendo desenvolvido pela ed.ufpa, que se prepara para o lançamento, em março, de mais dois volumes dos Diálogos de Platão – edição bilíngue. Até o final do ano, a Editora concluirá a publicação da coleção de 11 volumes da poesia completa de Max Martins.
Etapas – O reitor informou que a etapa em andamento do projeto é a de fundação, estrutura e cobertura da obra e que a próxima etapa será de acabamento e finalização, com a posterior aquisição de equipamentos para o funcionamento do prédio como um todo. E completou sua fala com uma mensagem de confiança: “Somos uma instituição forte e o evento de hoje tem o simbolismo da resistência. Estamos celebrando a cultura e o conhecimento, reafirmando a vocação da universidade pública brasileira, que serve unicamente à sociedade em seu compromisso com a cidadania”, concluiu. A expectativa é de que o prédio seja entregue à comunidade e inaugurado até o final de 2022.
Texto: Jéssica Souza – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Alexandre Moraes e reprodução do projeto