UFPA desenvolve pesquisa para a produção de biocombustível e bioasfalto com caroços de açaí e tucumã

A Universidade Federal do Pará (UFPA) está conduzindo estudos com vistas à produção de bio-óleos, compostos bioativos e biocombustíveis, biocarvão e ligantes de asfalto com o caroço do açaí e do tucumã. Os ensaios laboratoriais estão concentrados no Projeto Sustenbio Energy e fazem parte da Pesquisa “Valorização das Cadeias Produtivas Sustentáveis do Açaí e do Tucumã nos estados do Pará e Amazonas com foco na produção de Bio-Óleos, Compostos Bioativos, Gasolina, Querosene e Diesel Verdes, Biocarvão e Ligantes de Asfalto”, realizada por um grupo de pesquisadores interinstitucional, coordenado pelo professor da UFPA Nélio Teixeira Machado.

O Projeto Sustenbio Energy está sendo desenvolvido no Laboratório de Transformação e Valorização de Resíduos Agroindustriais: Nanocatalisadores, SAF (Sustainable Aviation Fuel) e Hidrogênio Verde, adquirido com recursos do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Fundação Amazônia de Amparo a Estudos e Pesquisas (Fapespa). O laboratório foi inaugurado no último dia 2 de dezembro e funciona no prédio do Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia do Instituto de Tecnologia (Proderna/Itec/UFPA). 

A inauguração foi realizada pelos coordenadores locais do projeto, os professores Nélio Teixeira Machado (Programa de Doutorado em Engenharia de Recursos Naturais da Amazônia e Programa de Pós-Graduação em Engenharia Química), Bruno Marques Viegas (FBiotec/ICB/UFPA), Lucas Pinto Bernar (Faesa/Itec/UFPA) e Renata Noronha (ICB), e contou com a presença da diretora do Instituto de Ciências Biológicas, Jeannie Nascimento dos Santos, e da representante da Pró-Reitoria de Extensão (Proex), Taiza Ferreira.

Este é o segundo laboratório criado para o desenvolvimento desta pesquisa de transformação e valorização de resíduos da cadeia produtiva de açaí no estado do Pará e da cadeia produtiva do tucumã no estado do Amazonas, estudo que teve início em 2016, por intermédio de um grupo de professores e pesquisadores coordenado pelo professor Nélio Machado. A finalidade era a produção de biocombustíveis com óleos vegetais e gorduras animais residuais, utilizando o processo de transesterificação (reação química em que o álcool do éster reagente é substituído por outro álcool), até então considerado um grande desafio tecnológico para o Brasil. 

Com esse potencial de grande impacto ambiental, o estudo aproximou pesquisadores da área da engenharia sanitária e ambiental e fez com que, nos últimos anos, a pesquisa tenha se voltado para resíduos de base lignocelulósica, isto é, resíduos de biomassa vegetal, como é o caso dos caroços de açaí, resíduo comum na cidade de Belém. Agora, no novo laboratório, a pesquisa segue para a finalização de obter o biocombustível e dar início à fase prática do projeto, voltada para a viabilidade econômica e a obtenção de produtos que tragam benefícios para a sociedade. E, além da produção de energia limpa, o projeto também  vai iniciar os testes para a reutilização do resíduo da produção de biocombustível na produção de massa asfáltica. 

“O objeto principal do projeto é a transformação dos resíduos feitos de caroços de açaí e tucumã em gasolina verde, querosene verde, diesel verde, biogás, em bio-óleo que tem propriedades antioxidantes, biológicas e farmacológicas, contra uma série de fungos e bactérias, e em bioasfalto, que é o resíduo do processo de transformação dos caroços. Nós já estamos em estudos avançados não só de caracterização físico-química composicional, mas também de testes desse bioasfalto como capeamento asfáltico sustentável”, explica o professor Nélio Teixeira.

Atualmente, além da UFPA, integram o grupo de pesquisa as seguintes universidades:: Federal Rural da Amazônia (Ufra), Federal do Sul e Sudeste do Pará (Unifesspa), Federal de Pernambuco (UFPE) e do Estado do Amazonas (UEA), que, em conjunto, buscam fortalecer as cadeias produtivas existentes em torno do açaí e tucumã presentes na região amazônica. 

Fotografia mostra um homem jogando caroços de açaí dentro de uma pequena máquina. Os caroços de açaí estão dentro de um tubo de ensaio de vidro. Ele veste um jaleco branco e calça luvas nas mãos.

Transformação e valorização de resíduos agroindustriais – De acordo com Lucas Bernar, que vai coordenar o Laboratório de Transformação e Valorização de Resíduos Agroindustriais: Nanocatalisadores, a abertura deste novo espaço ajuda na expansão do projeto que o grupo de pesquisa já buscava aprimorar, ao incluir, na atual fase, novas possíveis aplicações e estudos, além de expandir o conhecimento do mercado em volta dos frutos da região, no estado do Pará, de Pernambuco e do Amazonas. 

A região amazônica possui diversas cadeias produtivas baseadas no beneficiamento de frutos, principalmente para a produção de polpa e óleos vegetais, gerando quantidades consideráveis de resíduos na forma de biomassa, como sementes e cascas, muitas vezes não utilizados e descartados. Materiais que, segundo Lucas Bernar, poderiam ser utilizados como matéria-prima em processos em que são transformados em outros produtos, agregando valor à cadeia produtiva existente em torno desses frutos, ao mesmo tempo em que se destinam corretamente os resíduos gerados pelas atividades de beneficiamento de frutos.

“Hoje, o projeto segue em duas frentes: uma mais clássica, referente ao aprimoramento dos combustíveis que podem ser gerados com os resíduos considerados por meio de processos de pré-tratamento e melhoramento catalítico; e outra, referente à separação, ao isolamento e à identificação dos compostos presentes em relação à sua capacidade oxidativa, repelente, fungicida, bacteriostática e assim por diante. Além disso, será estudada a capacidade de adsorção (remoção de compostos por interação com a superfície do carvão) de contaminantes de água e utilização do carvão como aditivo na preparação de solos para produção de mudas”, pontua o pesquisador.

As atividades do projeto estão divididas pelos estados do Pará, de Pernambuco e do Amazonas. Na UFPA, além dos ensaios laboratoriais, está sendo realizado um levantamento da quantidade de caroços de açaí gerada na Região Metropolitana de Belém para estimar a quantidade do resíduo existente e de que forma é feito o descarte deste. A pesquisa envolve acadêmicos bolsistas e é realizada bairro a bairro, com o contato com vendedores e comerciantes de açaí e com a ajuda de ferramentas de geolocalização.

TEXTO: Keila Gibson - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

FOTOS: Keila Gibson

Relação com os ODS da ONU:

ODS 4 - Educação de QualidadeODS 9 - Indústria, Inovação e Infraestrutura

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