Foi realizado na capital portuguesa, na última segunda-feira, 7 de julho, o evento “Ciência e Vozes da Amazônia – Diálogos em Portugal”. A programação marca a presença internacional da Universidade Federal do Pará (UFPA) na construção da COP 30 e reforça laços de cooperação científica entre os dois países, desta vez, como forma de preparação para a trigésima Conferência das Partes da ONU, em novembro de 2025, em Belém do Pará.
“Este encontro marca mais um passo importante na trajetória do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, uma iniciativa que lançamos com o compromisso de garantir que as vozes dos povos, das instituições e da ciência amazônica sejam ouvidas, respeitadas e incorporadas nas soluções para o problema da emergência climática”, destacou o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, durante a abertura do evento.

Ainda no discurso de abertura, o reitor destacou a importância da centralidade da Amazônia no debate climático global e o compromisso da UFPA em fortalecer a ciência como ponte entre saberes tradicionais e soluções sustentáveis para o planeta. “A Amazônia não é apenas uma floresta ou uma reserva de água doce para o planeta. É um território vivo, habitado por milhões de pessoas, com saberes milenares, culturas diversas e modos de vida sustentáveis que resistem, transformam e ensinam. É preciso superar de vez a ideia do ‘vazio amazônico’. A Amazônia não é ausência, é presença de saberes, histórias, resistências e soluções. A Universidade Federal do Pará, como maior produtora de conhecimento científico sobre a região, tem assumido um papel central nesse debate”, frisou o reitor da UFPA.
Fruto de um Acordo de Cooperação Técnico-Científica entre a UFPA e a UAL, o evento incluiu debates sobre mudanças climáticas, migrações forçadas, criminologia ambiental e projetos de pesquisa colaborativa, com foco na realidade amazônica e seu impacto transnacional.
“Ainda não conheço o Pará, mas quero muito me aproximar da Amazônia e fortalecer parcerias com a UFPA. Precisamos, juntos, buscar recursos para a pesquisa e para a conservação, pois a ciência tem um papel decisivo na construção de soluções para os desafios globais. Acredito que podemos somar esforços, compartilhar experiências e contribuir concretamente para a preservação da Amazônia e para o futuro do planeta”, ressaltou o reitor da UAL, José Amado da Silva.

Participaram do primeiro painel “Universidades e Cooperação frente aos desafios contemporâneos” o professor Emmanuel Tourinho (UFPA) e o professor Pedro Trovão do Rosário (UAL). Como pesquisador da Amazônia, Tourinho salientou questões históricas e ambientais que atravessam a região. “A floresta amazônica é responsável pelo regime de chuvas em toda a Região Sudeste e Centro-Oeste do Brasil, além de outros países. Essa floresta, que tem toda essa importância, hoje vive um processo de acentuada degradação. Ela vem perdendo o bioma em todos os sentidos, quer dizer, não é só a floresta que está sendo reduzida, a biodiversidade está sendo reduzida, a sociobiodiversidade está sendo impactada. Nós somos um território de muitas culturas, muitos conhecimentos, somos uma região que tem gravíssimos problemas fundiários e nenhum outro problema da Amazônia se resolve sem resolver o problema fundiário”, destacou Tourinho.
Em seguida, foi realizado o debate “Amazônia em Movimento: Clima, Território e Justiça Global”, com a participação da professora Maria João Guia (UAL) e da professora Andreza Smith (UFPA). O terceiro e último painel foi o “Vozes da Floresta: Direitos, Cultura e Resistência na Rota da COP 30”, reunindo a pró-reitora de Relações Internacionais da UFPA, Lise Tupiassu, e a cantora e ativista Fafá de Belém, que levou sua perspectiva sobre a importância do engajamento cultural na defesa da Amazônia.

Lise Tupiassu argumentou, durante sua participação no encontro, que a academia se destaca como uma ponte determinante e estratégica no âmbito das discussões internacionais sobre a realidade amazônica. “O nosso papel é fazer com que toda a comunidade, inclusive a comunidade de Portugal e do mundo, se sensibilize para que o debate seja realmente pautado naquilo que acontece no nosso território”, afirmou. Ademais, segundo ela, neste momento em que o mundo se depara com diferentes pautas relevantes, a sociedade não pode tirar o foco das questões socioambientais, especialmente quando o planeta urge por resolutivas frente à emergência climática. “São inúmeras situações em relevo atualmente, como as guerras, as relações humanas fortemente impactadas pela polarização política, graves problemas com movimentos migratórios internacionais. E, diante disso tudo, não podemos deixar que as questões referentes às mudanças climáticas e principalmente esse olhar mais voltado para a justiça climática acabem ficando em segundo plano”, pontuou.
Já a cantora Fafá de Belém realçou que a realização da COP 30 na Amazônia requer atenção e sensibilidade não apenas sobre a floresta, mas também, sobretudo, sobre as populações que formam a região, pois são elas as responsáveis pela preservação do bioma. “A expectativa e a esperança do povo estão muito grandes, mas o holofote está sobre a cidade de Belém. E é preciso que esse holofote ilumine pensadores, músicos, criadores, todo o nosso povo que tem uma sabedoria ancestral, porque é assim que a gente continua mantendo a Amazônia”, defendeu a paraense.
Fafá foi o grande nome no encerramento cultural do evento, com a apresentação “Um Canto da Amazônia em Portugal”, que celebrou as conexões luso-brasileiras.