As histórias do povo Tembé de Santa Maria do Pará agora estão registradas em livros. O trabalho recebeu o apoio de pesquisadores da Universidade Federal do Pará e traz a público “os escritos e os ditos” dos autores. A apresentação das publicações ocorreu na tarde desta quinta-feira, dia 21, em reunião no gabinete da Reitoria. O reitor Emmanuel Tourinho entregou as publicações aos autores, Judite Vital e Maria Francisca, e à filha do autor Miguel Carvalho.
Os livros apresentam o registro de histórias narradas por cada autor e fazem parte da coleção “Lideranças Tradicionais”, da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), em parceria com a Editorial Mórula. Os três primeiros títulos da coleção são: Judite: a menina da zona rural, guerreira TeneteharaCacique Miguel: o senhor das histórias Tembé Tenetehara; e Maria Francisca: a Tembé Tenetehara líder do Jeju.
A iniciativa surgiu em 2009, quando as lideranças indígenas solicitaram aos pesquisadores da UFPA a produção das obras. A proposta da Associação Tembé de Santa Maria é resguardar a memória de seu povo e fazer com que mais pessoas conheçam as suas histórias, diminuindo os preconceitos e a discriminação que acompanham o dia a dia a dia Tembé.
O reitor Emmanuel Tourinho expressou estar agradecido pela confiança depositada pelos representantes do povo Tembé no trabalho da Universidade e frisou os avanços alcançados com as políticas afirmativas da Instituição. “Temos a satisfação de ter dado alguns passos importantes, que favorecem a entrada de alunos indígenas na UFPA. Temos aqui uma associação bastante atuante que nos ajuda a implementar as políticas afirmativas da Instituição e a combater o preconceito e a discriminação. E essas publicações serão importantes não só na UFPA, como também na educação básica, para levar o conhecimento da cultura dos povos indígenas para toda a sociedade”, ressaltou o reitor.
A pesquisadora e professora da UFPA, Jane Beltrão, uma das organizadoras das publicações, também agradeceu aos representantes Tembé pela missão que foi designada aos pesquisadores.
“Demoramos a organizar os livros, mas finalmente com muito cuidado e carinho conseguimos produzi-los. Afinal, tínhamos que organizar "os escritos e os ditos" pelos autores, tarefa que exigiu paciência e muitas idas e vindas. Depois, a batalha foi obter verba para editá-los e finalmente entregá-los. O trabalho de organização coube a Edimar Fernandes (etnia Kaingang), a Rosani Fernandes (etnia Kaingang), a Camille Barata, ao Rhuan Lopes e a mim. Mas, o apoio foi de todos os que trabalharam entre os Tembé, inclusive, dos que jamais foram às aldeias, caso especial de Marina Gato e Antonio Carlos Vilas, que sempre apoiaram nossos sonhos. Agradeço à Mariah Aleixo, Breno Neno e ao Vinícius Machado pelos trabalhos, especialmente como facilitadores de oficinas e pelo acompanhamento de processos judiciais.”
Os livros receberam o patrocínio da Associação Brasileira de Antropologia (ABA), CAPES, CNPq, do Programa de Pós-Graduação em Antropologia Social (PPGAS) do Museu Nacional (PPGAS/MN), e do Programa de Pós-Graduação em Antropologia (PPGA) da Universidade Federal do Pará (UFPA), via concorrência de editais, inclusive do Programa Nacional de Cooperação Acadêmica (PROCAD) entre o PPGA/UFPA e PPGAS/MN.
Segundo o representante indígena da Associação do Povo Tembé, o enfermeiro Almir Vital da Silva, a publicação era um sonho antigo e que agora foi concretizado. “No dia em que houve a reunião na comunidade, nós conversamos e pedimos que a nossa história fosse colocada em livros, porque hoje já não temos o costume de sentar em rodas para ouvir os relatos dos mais velhos. Como muitos já partiram, tínhamos a preocupação de conservar essas histórias.”
Os livros com as primeiras histórias do povo Tembé de Santa Maria serão distribuídos, gratuitamente, nas aldeias e nas escolas de educação básica.
Texto: Ericka Pinto – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes/ Alexandre Yuri