A Universidade Federal do Pará (UFPA) integrou o grupo de representantes da ciência e da educação brasileira e de mais de 40 países, durante o Festival da Cultura Oceânica, realizado no município de Santos (SP), entre os dias 23 e 29 de agosto. O encontro proporcionou aos participantes um período de grande imersão, aprendizado e troca de saberes durante a programação, que teve ainda, intensos debates sobre o oceano nas áreas do turismo, navegação, esportes, comunicação, empreendedorismo, economia e governança.
Realizado pela Universidade Federal de São Paulo (UNIFESP), com o selo do Programa Maré de Ciência e da Comissão Oceanográfica Intergovernamental da UNESCO (COI-UNESCO), o evento colocou no centro as questões que emergem da chamada Década do Oceano (2021-2030), que alerta para a importância da saúde dos mares e da urgência de soluções para essa que é uma crise ambiental global.
Na quinta-feira, dia 28 de agosto, o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, compôs a mesa “Encontro das Águas: Ciência, Educação e Juventudes Rumo à COP 30”, momento bastante aguardado pelos participantes, especialmente os jovens estudantes de diversas regiões, que trouxeram questionamentos e reflexões sobre os desafios da grande conferência, que acontecerá em Belém do Pará, em novembro.
Para o reitor, a oportunidade representou um momento fundamental para destacar a relevância das matrizes científicas, sociais e culturais do povo amazônico. “Queremos marcar o nosso protagonismo na COP, até porque hoje é inquestionável nossa atuação enquanto pesquisadores da região. Somos a universidade que mais produz conhecimento científico sobre Amazônia no mundo”, acentuou.
Quando ouviu questionamentos da juventude presente sobre a real necessidade de realização de grandes eventos como as COPs, uma vez que nem todos podem participar, o reitor foi enfático em defender as conferências. “Eu acredito que a ciência, e a sociedade como um todo, não podem desperdiçar momentos como este. Embora as negociações e decisões estejam concentradas em um grupo restrito de líderes mundiais, não podemos desconsiderar o poder das pressões sociais, da juventude e da mobilização de toda a comunidade. Isso faz, sim, toda a diferença, pois esse debate impacta diretamente sobre a nossa vida e o futuro do planeta”.
Ele citou como exemplo, o esforço da Universidade Federal do Pará em se fazer fortemente atuante em todo o processo de preparação para a COP 30, por meio do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia, lançado em fevereiro de 2025. “Temos o firme propósito de centralizar a Amazônia nas discussões climáticas globais da Conferência das Partes. Nos unimos nesse compromisso e devemos seguir com ele, mesmo após o evento da ONU. As discussões científico-sociais devem ser tratadas de forma horizontal, respeitando os saberes ancestrais, de povos ribeirinhos, quilombolas e indígenas”, concluiu.
Mesa – Também fizeram parte da mesa, o diretor do departamento de programas estratégicos do Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação (MCTI), Leandro Pedron; a reitora da UNIFESP Raiane Assumpção e a coordenadora do programa Escola Azul Brasil, Thais Pileggi. A mediação foi do pesquisador em Ciências do Mar e organizador do evento, Ronaldo Christofoletti, presidente do Grupo de Especialistas em Cultura da Oceânica da UNESCO e vice-presidente do Grupo de Comunicação Estratégica da Década do Oceano.
“O oceano está em pauta esse ano, por causa do Norte, por causa da COP, por causa desse movimento que estamos fazendo, mas também temos que pensar num processo de continuidade. Eu acho que tudo o que a gente está vendo nessas semanas de discussões serve a esse propósito também, então vamos usar a ferramenta de continuar engajando e conectando as pessoas”, sugeriu Leandro Pedron (MCTI).
Já a reitora da UNIFESP, Raiane Assumpção, enfatizou as contribuições das universidades no contexto da COP 30. “É fundamental que a ciência esteja intrinsecamente relacionada com os atores sociais que vivem aqui. É uma forma de produzir ciência muito forte na América Latina e no Brasil, e que pode somar muito nessa COP 30. Além disso, devemos articular o trabalho feito nas universidades com os ministérios, com os sistemas de governança, para que possamos influenciar nos processos de decisão”, salientou.
Ronaldo Christofoletti (UNIFESP/ Maré de Ciência) também aposta nessa interação. “Eu acho fundamental entender essa governança geral, entender que não é simples, não é fácil. É preciso compreender como as questões que pautamos chegam a essas agendas governamentais. A gente precisa dar mais atenção a esse processo”, considera.
Já a coordenadora do programa Escola Azul Brasil, Thais Pileggi, ressaltou o papel da educação no incentivo à participação e engajamento de crianças e jovens nos debates sobre a cultura oceânica. “Só conseguiremos mudança por meio da educação. Muitos não sabem o que é a COP, como ela acontece, então a gente pensou em criar um desafio para que as crianças e jovens entendessem e pudessem perceber a importância dessa conferência e de que maneira as decisões dessa conferência vão atingir o seu território, o seu local. A gente criou um desafio que chama Minha Escola é uma Central de Informação sobre a COP”, explicou. Segundo ela, os estudantes serão porta-vozes, daquilo que é discutido na escola, para a comunidade, entendendo diversas formas de comunicar. São mais de 19 mil estudantes participando do desafio, com escolas nas cinco regiões do Brasil.
O Festival da Cultura Oceânica contou com dezenas de workshops, discussões, oficinas, atividades culturais e uma grande feira que integrou empreendedorismo, economia criativa e educação.