UFPA participa de Colóquio sobre ameaças aos territórios da Pan-Amazônia

Danos socioambientais causados por megaprojetos de mineração, agronegócio e infraestrutura urbana, além de problemas com a demarcação de terras indígenas e com a titulação de propriedades quilombolas, estiveram em pauta durante o “Colóquio Pan-Amazônico de Povos e Comunidades Tradicionais em Tempos de Ameaças aos Territórios”.

A Universidade Federal do Pará participou do evento, realizado em Manaus (AM), entre os dias 21 e 24 de agosto, reunindo lideranças de movimentos sociais e de populações originárias de todos os países da Pan-Amazônia, que, junto a pesquisadores e cientistas da região, discutiram propostas de enfrentamento às principais questões que colocam em risco a segurança desses povos e, consequentemente, de todo o planeta.

Presente no primeiro dia do colóquio, o reitor da Universidade Federal do Pará, Gilmar Pereira da Silva, destacou os desafios a serem enfrentados em um momento em que a instituição paraense se prepara para a trigésima Conferência do Clima (COP 30), que ocorrerá no mês de novembro, em Belém. 

“Estamos vivendo um momento singular com a realização da COP 30. Este processo tem nos levado a refletir sobre o quanto ainda estamos dispersos e sobre a necessidade de estarmos mais próximos uns dos outros. Um dos grandes desafios é justamente superar essa fragmentação, pois não é possível pensar a Amazônia a partir de grupos isolados, sejam universidades, governos ou instituições específicas, sem considerar a participação efetiva das populações tradicionais nesse propósito”, afirmou.

“Temos nos engajado em diferentes iniciativas, especialmente no Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, lançado em fevereiro deste ano, e busca ampliar a presença e a visibilidade da produção científica e dos saberes ancestrais da região”, complementou o reitor, em seu discurso no encontro internacional.

O evento apresentou resultados do “Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia” (PNCSA), coordenado pelo antropólogo Alfredo Wagner (UEA/UEMA/UFAM). “Eu acredito que nós temos que começar a nos despirmos de um certo sentimento nacional de hegemonia, de prevalência e abrirmos um pouco as fronteiras para as reuniões e estabelecendo uma relação das universidades com a sociedade, que eu acredito ser o ponto central”, enfatizou o pesquisador.

Segundo Wagner, o objetivo principal do colóquio foi fortalecer as vozes e as lutas de povos e comunidades tradicionais frente às crescentes ameaças aos seus territórios, promovendo um diálogo interdisciplinar e intercultural entre a comunidade acadêmica e os movimentos sociais. Durante quatro dias de programação, foram realizadas mesas-redondas com temas que buscaram aproximar as instituições de ensino das populações nativas da região. Os debates incluíram os impactos de megaprojetos privados e seus  efeitos sobre povos e comunidades  tradicionais, desmatamentos e intrusamentos de terras indígenas e, ainda, mercado de Carbono, sob coordenação das professoras Rosa Acevedo (PPGDSTU/NAEA), e Vania Rocha Fialho, do (PPGA/UFPE).

Também tiveram destaque os temas “Megaprojetos de Infraestrutura: Rodovias, Complexos Portuários, Ferrovias,  Barragens, Base Espacial e Linhas de Transmissão de Energia e os Territórios de Povos e Comunidades Tradicionais” e “Transformações e Tensões Sociais nas Cidades Amazônicas”, ambos coordenados pelas professoras Patrícia Portela e Cynthia Martins, da Universidade Estadual do Maranhão (UEMA).

Diversidade de vozes – O colóquio contou com intensa participação de lideranças indígenas de diferentes povos, representantes de comunidades quilombolas e ribeirinhas, organizações de mulheres extrativistas, sindicatos rurais e movimentos sociais pan-amazônicos, como a cacique Katia Silene Akrätikatêjê, da Terra Indígena Mãe Maria, localizada no município de Bom Jesus do Tocantins, no Pará. “Através da cartografia social, a gente conseguiu trazer nossas demandas, todas as nossas problemáticas, que eu creio que não são só do meu povo, mas de todos”, pontuou.

A coordenadora da Associação do Povo Indígena Tenharim Morõgitá (APITEM), da Terra Indígena Tenharim Marmelos (AM), Daiane Tenharim, falou sobre o território localizado no Amazonas, mais conhecido como “Arco do Desmatamento”. “O meu território é cortado pela BR-230, um empreendimento que foi construído também durante a ditadura militar, que, além de cortar  a terra indígena local, abriu espaço para ramais, loteamentos ilegais e outras atividades ilícitas, como a exploração de madeira e de garimpo também, com grande avanço de mineração, imóveis particulares que, na maioria das vezes, são ilegais ou irregulares, empreendimentos como usinas hidrelétricas, dando muito espaço para o adensamento de ramais, conectando também para outras rodovias, facilitando a entrada de invasores que praticam caça e pesca ilegal, retirada de recursos naturais e afins”, lamentou.

Sobre o evento

O “Colóquio Pan-Amazônico de Povos e Comunidades Tradicionais em Tempos de Ameaças aos Territórios” foi realizado conjuntamente com o Projeto Nova Cartografia Social da Amazônia – PNCSA, universidades e movimentos sociais da Amazônia Legal, compreendendo representantes das seguintes unidades da federação brasileira: Amazonas, Acre, Amapá, Maranhão, Mato Grosso, Pará, Rondônia, Roraima e Tocantins, bem como representantes dos oito (8) países que compõem a denominada Pan-Amazônia, quais sejam, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname, República da Guiana e Venezuela. E contou com o apoio dos Programas de Pós-Graduação: em Cartografia Social e Política da Amazônia da Universidade Estadual do Maranhão/PPGCSPA-UEMA e Interdisciplinar em Ciências Humanas da Universidade do Estado do Amazonas/PPGICH-UEA.

TEXTO: Ana Teresa Brasil - Ascom Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30

FOTOS: Alexandre de Moraes - Assessoria de Comunicação Institucional

Relação com os ODS da ONU:

ODS 11 - Cidades e Comunidades SustentáveisODS 14 - Vida na ÁguaODS 15 - Vida TerrestreODS 16 - Paz, Justiça e Instituições Eficazes

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