A Universidade Federal do Pará (UFPA) recebe uma visitante especial nos últimos dias, a escritora e ex-ministra da Justiça da França Christiane Taubira. Natural de Caiena, na Guiana Francesa, Christiane Taubira é conhecida internacionalmente por sua atuação política na defesa dos direitos humanos, da justiça social e da valorização das identidades culturais, tópicos sobre os quais ela veio abordar em uma extensa agenda de encontros com diferentes setores da comunidade acadêmica, especialmente com as associações estudantis, os programas de pós-graduação e a Comissão de Equidade e Gênero da UFPA.
O primeiro compromisso de Christiane Taubira na UFPA foi a Conferência intitulada Amazonie rebelle aux fantasmes, que propôs um debate acerca dos diferentes aspectos culturais, sociológicos, geopolíticos e econômicos que precisam ser pensados quando se fala de Amazônia, especialmente em convenções internacionais, lembrando que a região envolve realidades e vidas diversas, que não se limitam apenas a uma paisagem imaginária daqueles que não vivem aqui. Para ela, é imprescindível que haja um diálogo entre os países que compõem a Amazônia para que, dentro da diversidade que os caracteriza, seja possível uma união representativa de proteção desse território.

Neste sentido, a escritora ressaltou, ainda, que, embora a região, hoje, seja um lugar que receba muitas iniciativas externas, as decisões sobre o território não podem ser lideradas por pessoas de fora da Amazônia. “Não se pode continuar pensando a Amazônia apenas como uma paisagem ou uma floresta, nós precisamos pensar na legitimidade das pessoas que vivem aqui, que devem conduzir o debate e serem levadas em consideração. É preciso considerar as deliberações coletivas elaboradas localmente”, ressaltou.
Ela aponta que entender a amplitude da Amazônia requer compreender, acima de tudo, que existem povos com histórias, narrativas e pensamentos diferentes que simbolizam a força desse imenso imaginário amazônico, que têm uma visão universal e atual e a capacidade de mudar o mundo. “Nossas experiências coletivas são muito importantes para o mundo atual, que vive sob muita exclusão, discriminação e preconceito, e para mostrar a todos que somos diferentes, mas que pertencemos ao mesmo mundo e sabemos como viver juntos, entre diferentes povos, países e continentes”, sentencia.
Escuta e formação – Para o reitor da UFPA, Gilmar Pereira da Silva, a visita da ex-ministra, que é uma das vozes mais influentes do pensamento político e jurídico contemporâneo, tem um simbolismo especial neste momento de conflito que a sociedade mundial vive. “A ex-ministra, madame Christiane Taubira, coloca a sua vida em favor das pessoas mais vulneráveis, que se desafiam contra o racismo e todos os tipos de preconceitos. Sua visita nos remete a uma reflexão sobre este momento histórico que estamos vivendo, com um mundo que, cada vez mais, convive com os extremos, que devem ser combatidos, para que possamos ter uma sociedade mais acolhedora, mais humana e, consequentemente, mais democrática”, comenta Gilmar Pereira da Silva.



Além da palestra, durante a semana, Christiane Taubira também se reuniu com o Grupo de Estudos sobre Neoliberalismo e Alternativas na Amazônia, visitou o Campus Abaetetuba, no qual também palestrou , e compartilhou um pouco da sua experiência como parlamentar na França,discutindo violência de gênero, durante evento promovido pela Comissão de Equidade de Genêro da UFPA.
De acordo com a presidente da Comissão de Equidade de Gênero da UFPA, Roseane Pinto, os relatos de Christiane Taubira provocaram emoção na plateia presente, principalmente em razão de a visitante pontuar o fato de que, embora em lugares diferentes, muitas experiências vividas por ela também são compartilhadas por outras gerações de mulheres. “A reunião teve o objetivo de unir mulheres que estão preocupadas em fazer o enfrentamento de tudo aquilo que é pensado por homens e para homens, como os espaços, a arquitetura, as relações e o sistema de poder. Nós, mulheres, precisamos, coletivamente, nos fortalecer para poder marcar posição e impor os nossos corpos nesses espaços de poder e promover, de fato, uma equidade de gênero”, comenta a presidente da Comissão de Equidade de Gênero da UFPA, Roseane Pinto.
Feliz com as trocas que têm sido realizadas com grupos de diferentes áreas de conhecimento, Christiane Taubira diz, agora, ter um entendimento melhor da realidade brasileira, principalmente a vivenciada na Amazônia paraense. “Esta primeira visita que faço à UFPA está sendo muito interessante, porque estou conseguindo me reunir com grupos de diferentes campos de pesquisa, que envolvem pessoas interessantes, audaciosas e com mentes abertas para o progresso do pensamento. Percebi que a UFPA também é uma universidade muito aberta, onde pude encontrar pessoas de diferentes trajetórias e vivências e, hoje, consigo entender o Brasil melhor graças a essas pessoas que me proporcionaram suas diferentes perspectivas”, pontua.
Entre as atividades previstas para a escritora nessa semana, ainda estão encontros com representantes da Associação de Discentes Quilombolas da UFPA, workshops na Clínica de Combate à Escravidão Contemporâena e no Programa de Pós-Graduação em Ciência Política, e uma reunião para debater tópicos para a COP 30 na UFPA.



