Com o objetivo de estimular o pensamento crítico e o protagonismo da juventude amazônica, foi realizado na Universidade Federal do Pará, no último sábado, dia 29 de março, o The Reality Tour Belém. O evento internacional, dedicado à formação de novos líderes climáticos, é assinado pelo The Climate Reality Project, organização sem fins lucrativos que promove debate, simultaneamente, em mais nove países. Na capital paraense, o evento contou com o apoio do Movimento “Ciência e Vozes da Amazônia na COP-30”, lançado pela UFPA, em fevereiro deste ano.

“Este evento, em especial, tem uma relevância enorme porque traz a juventude para o centro das discussões. É uma forma de termos novos multiplicadores de conhecimento, o que nos dá a perspectiva de que estamos no caminho certo”, enfatizou o reitor Gilmar Pereira da Silva, que saudou os participantes no início do encontro.
Segundo ele, este tipo de iniciativa faz parte da missão histórica da UFPA. “Se a gente não formar as pessoas, teremos muita dificuldade de avançar. Aqui, na Universidade, além dos cursos de graduação, mestrado e doutorado, temos a preocupação de chamar os jovens, principalmente aqueles que ainda não estão no ensino superior, e também aqueles que já estão, para entenderem que eles precisam atuar e ter voz nas ações de mudança, e, nesse caso, nas questões ambientais, em diálogo com o resto do mundo”, reforçou.
Reunir esses participantes na capital onde vai ocorrer a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima- COP 30 foi a missão do encontro. Um momento especial para a Kimberly Silva, da Palmares Lab, que desenvolve atividades de defesa de direitos sociais e fez a primeira apresentação do dia. “Minha fala, com base na minha trajetória, foi para as pessoas se reconhecerem neste lugar de agentes de transformação, seja para COP, seja para qualquer outro evento, porque, às vezes, a gente acha que precisa ter um perfil para estar dentro da conferência, e não é isso, esse espaço é feito de uma diversidade étnica enorme, de saberes, de culturas, e a gente tem muito a contribuir”, afirmou.
O testemunho emocionado de Kimberly e a participação do Grupo de Hip Hop Sarau em Movimento entusiasmaram os presentes e deram o tom do treinamento promovido pelo The Climate Reality Project, fundado pelo Nobel da Paz Al Gore. Referência mundial na defesa de ações contundentes de contenção às mudanças do clima, Gore participou da abertura do treinamento via conferência virtual e simultânea, com tradução em 12 idiomas, e duração de mais de duas horas.

“Como bem lembrou o papa Francisco, os piores efeitos da crise do clima sempre acometem os mais pobres. A justiça climática acaba sendo um elemento fundamental da nossa missão, que é resolver esta crise climática”, salientou o líder mundial ao mencionar as principais catástrofes ambientais que atingiram o planeta recentemente. Ele citou, por exemplo, os desastres que ocorreram em países africanos, asiáticos e na Oceania, destacando aqui, no Brasil, o caso do Rio Grande do Sul, devastado pelas enchentes de 2024, ano em que houve, de modo contrastante, o registro de temperaturas extremas, as mais altas da história, apontando para o termômetro de Porto Alegre que indicava os 40 graus.
Futuro – Além da conferência virtual, foram promovidos painéis que contaram com a participação de jovens lideranças socioambientais do estado, como o da Crise Climática: um olhar sobre o Brasil, Belém e a Amazônia; o da Justiça Climática e, ainda, o módulo Habilidades de Liderança Climática. De acordo com Renata Moraes, gerente da filial brasileira do The Climate Reality Project, após o treinamento, a ideia é continuar a agenda do evento ao longo do ano. “Nossa ideia é gerar ferramentas e oportunidades para aqueles que queiram e possam continuar conosco num programa que a gente chama de Jovens Embaixadores pelo Clima. Esse projeto tem duas fases, a primeira vai até junho, composta de muitas aulas síncronas e assíncronas, para que eles compreendam o que é a COP, toda a história das conferências e as trilhas de negociação”, explica.
Renata acentua que, ao final das preparações, os jovens embaixadores estarão aptos a acompanhar a COP, estando em qualquer lugar dentro do evento, independentemente dos pavilhões em que ocorrem as discussões. “Além disso, teremos um processo de seleção em que há a parceria da Laclima, uma organização do Terceiro Setor que congrega advogados especializados em direito e justiça climática e vai fazer um trabalho de mentoria com os jovens para que eles não só acompanhem a COP nas salas de negociação, mas também, ao final, possam elaborar e assinar um relatório de jovem para jovem contando tudo o que aconteceu nesses espaços”, aponta.
Encerrando a programação, a professora da UFPA Izabela Jatene, da Comissão Executiva do Movimento Ciência e Vozes da Amazônia na COP 30, ressaltou que, “a partir de agora, esses jovens fazem parte de uma rede global que discute a agenda climática, e mais que isso, esses agentes internacionais passam a interagir com as vozes da Amazônia. E este é o nosso objetivo, fazer esse protagonismo reverberar, afinal são 200 jovens nessa interlocução”, concluiu Izabela.
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