UFPA sedia pré-estreia do filme A Queda do Céu, com a presença de Davi Kopenawa

O Instituto de Ciências da Arte da Universidade Federal do Pará (ICA – UFPA), em parceria com o Observatório do Clima, sediou a pré-estreia brasileira do filme A Queda do Céu durante a 10ª Mostra de Cinema da Amazônia. Inspirado no livro homônimo do xamã yanomami Davi Kopenawa e do antropólogo francês Bruce Albert, o longa retrata o cotidiano da comunidade Watoriki durante o Reahu, um ritual basilar da cultura yanomami. O longa é assinado pelos diretores Eryk Rocha e Gabriela Carneiro da Cunha e estreia nos cinemas de todo o Brasil dia 20 de novembro.

“É um filme poético. O Eryk e a Gabriela conseguiram captar a intimidade dos yanomamis como poucos filmes que eu já vi sobre a cultura indígena”, afirmou Eduardo Souza, coordenador da 10ª Mostra de Cinema da Amazônia, no início da sessão. “Nós estamos muito felizes mesmo. Esta é a décima edição da mostra, mas nós estamos nesta construção desde 2005. E, nesses vinte anos de história, eu confesso pra vocês, do fundo do coração, que esta é a noite mais especial de todas.”

A sessão de pré-estreia contou, ainda, com a presença de uma série de convidados especiais: Davi Kopenawa, escritor da obra que inspirou o filme; o diretor do longa, Eryk Rocha; a artista plástica e liderança yanomami Ehuana Yanomami; e a antropóloga Ana Maria Machado. 

O povo que segura o céu – Ainda na década de 70, com a chegada das estradas dos planos de integração da ditadura, o povo yanomami teve uma grave depopulação. O livro A Queda do Céu retrata as consequências da construção dessas estradas, também conhecidas como rodovias da morte, desde as doenças e epidemias trazidas por elas até a invasão dos garimpeiros à procura de ouro. 

“Esses garimpeiros não foram pra lá por acidente. A ditadura propagandeou que havia muito ouro na área yanomami”, contou a antropóloga Ana Maria Machado, durante a roda de conversa formada pós-exibição. “Os povos indígenas são os que menos contribuem para as mudanças climáticas, e são eles os mais vulneráveis a elas. É isso que nós chamamos de injustiça climática”, conclui.

Hoje, os yanomamis vivem na maior terra indígena do Brasil, na fronteira dos estados de Roraima e do Amazonas com a Venezuela, mas os desafios para preservar a soberania do próprio território persistem. Ainda assim, apesar da ameaça dos garimpeiros e das dificuldades, o povo que segura o céu mantém vivas as suas tradições e espiritualidade. Esse é um dos aspectos centrais retratados no longa A Queda do Céu, intitulado Hutomosi Kerayuwi na língua yanomami. 

“Eu queria mostrar o meu trabalho de luta pela defesa da nossa floresta, de tudo o que Omama, o nosso criador yanomami, plantou. Quando todos os yanomamis morrerem, quando a floresta morrer, o nosso universo também vai tombar. Mas nós ainda estaremos vivos, são 32 mil yanomamis em Roraima e no Amazonas. E nós ainda vamos viver bastante. O céu não vai cair hoje, nem amanhã, nem depois de amanhã, porque estamos vivos”, declarou o xamã Davi Kopenawa após a exibição. 

Jogos em tempos de ruína – A sessão de pré-estreia do filme A Queda do Céu foi aberta pela Exposição “Jibat – Jogos Indígenas no Baixo Tapajós em Tempos de Ruína”, do fotógrafo e antropólogo amazônida Igor Erick. O ensaio fotográfico retrata os primeiros Jogos Indígenas do Baixo Tapajós (2016), que reuniram mais de doze etnias em Santarém e na Terra Indígena Borari.

Igor cursou Antropologia na Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa) e obteve seu doutorado pela UFPA. A sua relação com os povos indígenas teve início na graduação, quando participou ativamente de eventos, atividades culturais e acadêmicas organizadas pelos estudantes indígenas em Santarém. Anos depois, essa experiência deu origem às fotografias que integram a exposição hoje.

“A realização desses jogos é na floresta. Sem rio, sem floresta, não há Jibat, não há povos indígenas. Então, a exposição foi uma forma de trazer essa discussão. Os indígenas não estão apenas ‘jogando’. É mais do que isso: é simbólico, é luta, é resistência”, explicou Igor Erick durante a abertura. “As águas e fluxos do rio Tapajós constituem mundos interligados e o centro de uma cosmologia. A degradação do rio, portanto, não apenas afeta sua materialidade, mas também desencadeia o colapso que atinge múltiplas dimensões de existência.”

A Exposição “Jibat – Jogos Indígenas no Baixo Tapajós em Tempos de Ruína” segue aberta para visitação no ICA – UFPA, localizado na Praça da República, em Belém, até esta sexta-feira, 21

TEXTO: Gabriela Cardoso - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

FOTOS: Vinicius Gonçalves - Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA

Relação com os ODS da ONU:

ODS 13 - Ação Contra a Mudança Global do Clima

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