O futuro da Universidade Pública como instituição plural, democrática e gratuita foi intensamente discutido na manhã desta quinta-feira, 18 de outubro, durante a realização da mesa “Universidade Pública: uma instituição no Estado de Direito”. O encontro reuniu, no Auditório Benedito Nunes, uma audiência formada por centenas de estudantes, docentes e técnicos-administrativos.
O evento, organizado pelo Instituto de Filosofia e Ciências Humanas, teve como objetivo criar um campo de reflexão em torno da relevância de uma Instituição Pública como a Universidade, em um Estado democrático. Os palestrantes, docentes do próprio instituto, discorreram sobre a trajetória da UFPA e os diversos aspectos que envolvem o atual momento político e seus reflexos nas universidades brasileiras.
Além dos pesquisadores, a mesa teve a presença do reitor Emanuel Tourinho, que destacou a importância do evento para a instituição. “A Universidade Pública é a base da ciência brasileira, sem o que não há soberania nacional. Ela serve a um projeto de sociedade com democracia e inclusão, que valoriza o pensamento crítico e o desenvolvimento de soluções para os grandes desafios do País. Defender esse patrimônio é um dever de todos nós”, afirmou o reitor.
Experiências anteriores – As histórias vividas há 50 anos, quando a UFPA dava seus primeiros passos na consolidação como Instituição de Ensino Superior no Norte do Brasil e a ditadura militar se instalava no País, foram lembradas pela antropóloga Jane Beltrão, à época aluna do curso de História. Muito emocionada, a professora relatou as perseguições sofridas por muitos professores e colegas de curso. “Homenageio os que lutaram contra o regime, como a professora Hecilda Veiga, o professor Heraldo Maués e muitos outros docentes que ainda hoje contribuem com o ensino na Faculdade de Ciências Sociais.”
A professora Edilza Fontes, da Faculdade de História, também mencionou momentos históricos e embaraçosos vividos nos chamados “Anos de Chumbo”, quando estudantes, perseguidos pelo regime, eram proibidos até de serem paraninfos em solenidades de colação de grau. “Quando alcançamos o período de abertura política, construímos uma universidade pública e gratuita. Agora, precisamos pensar para onde vai nossa sociedade, porque a democracia é um valor universal e dela não abrimos mão”, enfatizou.
“As ameaças feitas às universidades no sentido de querer calar e silenciar o pensamento crítico representam um perigo ao papel fundamental dessas instituições na transformação da sociedade”, observou o pesquisador Ernani Chaves, que também participou do evento. Ele citou o fim do lançamento, há dois anos, dos Editais específicos para as Ciências Humanas, prejudicando as pesquisas sobre gênero e as minorias, e a não obrigatoriedade do ensino da Sociologia, Filosofia e Artes como disciplinas no Ensino Médio. “O inconformismo é fundamental para os que atuam na área das Humanidades, e isso é visto como perigoso”, afirmou.
Para a professora Zélia Amador de Deus, a reunião de toda a comunidade universitária no atual momento político torna-se importante para confrontar esses enunciados de intolerância apresentados por uma candidatura à presidência da República, que visa ao retrocesso. “ Não podemos aceitar que não sejam reconhecidos os avanços sociais para as minorias, como as cotas para indígenas e negros”, disse.
No encerramento do evento, o historiador Fernando Arthur Freitas Neves, diretor geral do IFCH, agradeceu a participação de todos e reafirmou que a universidade deve ter garantida sua reconhecida capacidade de produzir conhecimento , para tentar resolver os inúmeros conflitos da sociedade na qual vivemos, por meio de relações de diálogo.
Texto: Ascom / IFCH
Fotos: CEBN