“Zélia Amador de Deus é mais do que um nome na história da Amazônia e do Brasil. É uma força viva, um farol que ilumina caminhos de dignidade, coragem e sabedoria”, declamou Carlos Smith, estudante de Jornalismo e diretor da Associação de Discentes com Deficiência da Universidade Federal do Pará (UFPA), minutos antes da sessão de estreia do Projeto Cine Diversidade. O primeiro curta escolhido para a exibição, Amador, Zélia, é uma narrativa da vida e trajetória de Zélia Amador, professora emérita da UFPA e ícone da educação e da cultura amazônica.
No telão do auditório, a história de Zélia, mulher negra, artista amazônica, professora e militante, foi contada com grande sensibilidade por meio de múltiplos depoimentos – tanto de Zélia quanto de figuras notáveis como Elza Fátima Rodrigues e Djamila Ribeiro -, e também de animações e dramatizações. Durante pouco mais de vinte minutos, o público mergulhou nas memórias da homenageada, que retrataram desde os primeiros casos de racismo vivenciados por ela, ainda na infância, até o seu ingresso no teatro e participação na fundação do Centro de Estudos e Defesa do Negro do Pará (Cedenpa), já na fase adulta. Ao final da sessão, Zélia Amador, que estava presente, foi ovacionada pelo público.
“Estou muito feliz com a homenagem. A sensação é que tu conseguiste, de alguma forma, avançar naquilo que tu pensas que é melhor para a sociedade, que é melhor para a Universidade. É uma experiência ímpar”, contou a professora homenageada. Depois dos agradecimentos, Zélia ainda reiterou a importância de prezar pela diversidade como valor responsável pelo enriquecimento da universidade e pelo fortalecimento das lutas contra o racismo, o sexismo e qualquer tipo de exclusão.

“Eu acho que não poderia ter uma escolha melhor para a gente começar o Cine Diversidade do que com esse documentário da Zélia. É muito importante que a gente traga filmes que nos permitam refletir e dialogar com este mundo tão complexo. E a Zélia contribuiu muito para que a gente tivesse hoje esta universidade tingida de todas as cores. Hoje, o nosso povo está por aqui e nós precisamos andar juntos, porque a luta contra o racismo é uma luta diária”, destacou o reitor da UFPA e amigo de longa data da homenageada, Gilmar Pereira da Silva, que compareceu ao lançamento.
Além do reitor, vários outros colegas da docência, de militância, dos movimentos sociais e também estudantes estiveram presentes no lançamento do novo projeto da Superintendência de Políticas Afirmativas e Diversidade (Diverse/UFPA) para prestigiar a grande homenageada, que tem inspirado diferentes gerações.
“A professora Zélia Amador de Deus é uma grande referência para nós, como juventude e como mulheres negras. Estar aqui assistindo de perto e tendo ela também na plateia foi muito emocionante porque a gente olha para a história dela e a gente se conecta, tanto pelo fato de ela ser uma filha de uma mulher empregada doméstica, que também é a história de muitas nós, quanto pelo fato de ela estar resistindo dentro da Universidade por uma luta antirracista e antissexista. Acho que, quando a gente olha para a professora Zélia, a gente pensa na possibilidade de construir novos mundos para a gente. Então esse momento foi muito emocionante e eu estou muito feliz de poder estar aqui”, compartilhou Katiane Jesus, estudante de Serviço Social da UFPA.

Sobre o Projeto Cine Diversidade – Segundo a professora Milene Lauande, coordenadora de Diversidade Cultural da Superintendência de Políticas Afirmativas e Diversidade (Diverse/UFPA), o Cine Diversidade é um projeto construído em parceria com o Ministério de Direitos Humanos que tem como objetivo, além de divulgar e difundir o cinema dentro da Universidade, debater a luta pela diversidade na Instituição.
“O Cine Diversidade é um projeto que surge baseado no pensamento de que nós precisamos internalizar, na Universidade como um todo, o debate dos direitos humanos. E dentro dele, está o debate das cotas, das ações afirmativas e de todas as ações que amparem a dignidade humana dentro da Universidade. Nós temos todo um catálogo de curtas direcionado aos direitos humanos, com temáticas variadas, como o direito ao esporte para a juventude, o direito à educação, à saúde, ao saber. O objetivo do Cine Diversidade é trazer o debate, trazer o cinema e a cultura para junto da luta na Universidade”, explica a professora Milene Lauande.
Interessadas(os) em realizar parcerias com o projeto, como centros acadêmicos e faculdades, podem entrar em contato com a Diverse/UFPA para solicitar a organização de sessões de exibição dos curtas. “A gente espera que o Cine Diversidade seja não só da Diverse/UFPA, mas também que seja da Universidade e que chegue um momento em que ele vai estar em todos os lugares. Nós já estamos preparando o segundo episódio, a ser realizado em parceria com a Associação de Estudantes com Deficiência (ADD/UFPA)”, destaca.



