As dimensões continentais que caracterizam o Brasil são propícias à utilização do modal ferroviário e, há 10 anos, a Universidade Federal do Pará (UFPA) contribui com a formação de recursos humanos para atuação na área. Criada em 2014, a Faculdade de Engenharia Ferroviária e Logística do Instituto de Tecnologia (Itec) da UFPA chega à primeira década de atuação já tendo formado profissionais aptos a atuar na operação, construção e manutenção de ferrovias.
Com duração de cinco anos, o bacharelado é um dos três cursos de Engenharia Ferroviária existentes em todo o Brasil em nível de graduação. Na UFPA, o diferencial é o aprofundamento na área de construção e manutenção de via permanente, além da formação na área de logística, que se torna mais uma possibilidade de atuação para os egressos do curso que podem ser admitidos, inclusive, por indústrias do setor de transporte, logística de distribuidoras, entre outras empresas.
O professor Roberto Serra Pacha destaca que as ferrovias têm uma importância ímpar para o mundo, para o Brasil e especialmente para a Amazônia. Justamente por isso, segundo ele, o mercado de trabalho é muito promissor para quem deseja atuar como engenheiro ferroviário. “As nações e cidades necessitam urgentemente de muita mobilidade, o que, até o momento, somente as tecnologias ferroviárias disponibilizam para a humanidade”, considera. “Sempre houve e haverá um enorme mercado para profissionais do setor de ferrovias, de Engenharia Ferroviária. Há diversos cenários superpositivos de empregos e empreendedorismo devido às Cadeias Globais no Século XXI”.
Olhar de dentro do curso – Discente da Faculdade de Engenharia Ferroviária da UFPA, o estudante Giovanni Campos conta que viu no curso a possibilidade de garantir formação em uma área que começou a lhe despertar interesse ainda na infância e adolescência. “Sempre viajei para Parauapebas e visitei uma das mais importantes empresas mineradoras do Brasil. Esse foi o ponto de partida para o surgimento do meu interesse pela área ferroviária, pois pude observar de perto como o transporte ferroviário auxilia na logística e no desenvolvimento do Brasil”, recorda. “Escolhi o curso de Engenharia Ferroviária e Logística porque acredito que ele tem um grande potencial para contribuir com o progresso do Brasil e se tornar um curso de referência nacional”.
Giovanni conta que as matérias iniciais trabalhadas na graduação são comuns aos cursos de engenharia em geral, porém, com o decorrer do curso, ele teve contato com disciplinas específicas da Engenharia Ferroviária que só aumentaram o seu interesse pela área. Entre as com que ele mais se identificou, está a área de operação ferroviária, por meio da qual ele pôde conhecer um pouco sobre planejamento, dimensionamento e acompanhamento de tráfego ferroviário; e a área de engenharia de transportes, que lhe chamou a atenção por unir vários modais de transporte diferentes e estar diretamente ligada à melhoria da infraestrutura e logística do Brasil.
“Meus planos profissionais incluem trabalhar em projetos que ajudem a otimizar as operações ferroviárias no Brasil. Quero me especializar no uso de dados para auxiliar na tomada de decisões e aumentar a eficiência das ferrovias”, planeja. “Na Amazônia, onde as condições geográficas e ambientais apresentam problemas únicos, a construção de ferrovias pode ser uma excelente solução. O desenvolvimento de projetos bem elaborados pode ajudar a integrar a região ao restante do Brasil, facilitando o transporte de produtos e pessoas de forma mais eficiente e menos impactante para o meio ambiente”.
Possibilidades de carreira – O docente do Curso de Engenharia Ferroviária e Logística Paulo Machado também vê uma perspectiva promissora para os profissionais da área. Para ele, há uma demanda constante por profissionais capacitados. “Muitos engenheiros que trabalham em ferrovias são engenheiros elétricos, engenheiros mecânicos, engenheiros civis que fizeram uma especialização. É um caminho que atende à demanda com excelência, mas o engenheiro ferroviário formado na graduação tem um nível de discussão de sistemas mais aprofundado, construído ao longo dos 5 anos de curso”.
O professor destaca, ainda, que o curso apresenta um modelo que procura atender às demandas de um país em desenvolvimento como o Brasil, onde o modal ferroviário pode proporcionar vários benefícios do ponto de vista da sustentabilidade, da eficiência energética e da capacidade de carga e logística. “O investimento inicial para novos projetos é alto e a necessidade de atender às regulamentações ambientais é ponto de destaque nas discussões do tema. Ter o menor impacto do ponto de vista ambiental e social é fundamental, mas é importante para a região e para o país que ocorram as implementações dos novos projetos ferroviários”, pontua Paulo Machado.
Recentemente, Paulo Machado atuou em uma pesquisa ligada ao tratamento térmico de solda dos trilhos, envolvendo metalurgia e análise de materiais empregados em ferrovias. O projeto objetivou melhorar as propriedades mecânicas da solda, levando a uma condição em que a solda tenha mais resistência mecânica e resistência às condições operacionais. “As barras de trilho têm um comprimento limite em torno de 9 a 12 metros, devido ao transporte que ocorre da fábrica até o destino final. Os trilhos são soldados em estaleiros para garantir qualidade na união, formando barras com maiores dimensões (TLS – Trilhos Longos Soldados), as quais são instaladas na ferrovia. Porém a solda pode ocasionar a formação de pontos de fragilidade no trilho, sendo importante ter atenção operacional e desenvolvimento de tecnologia associado ao processo de soldagem. O tratamento térmico de soldas é um procedimento tecnológico que objetiva melhorar as propriedades da solda após a união dos trilhos”, explica.
Promissora não apenas do ponto de vista da geração de tecnologia, mas também de investimentos no próprio curso, a pesquisa faz parte da Cátedra Roda-Trilho, rede de pesquisa financiada pela Vale, mineradora que opera duas ferrovias de transportes de cargas pesadas e de passageiros no Brasil, sendo uma no estado do Pará. O projeto foi realizado no Laboratório de Caracterização de Materiais Metálicos na Engenharia Mecânica da UFPA, em parceria com o Laboratório de Transformação de Fases da Escola Politécnica da USP. A execução do projeto possibilitou a realização de atividades de ensino e pesquisa em Engenharia Ferroviária, desenvolvimento de tecnologia e formação de pessoas nos níveis de graduação, mestrado, doutorado e pós-doutorado.