Pesquisadores do Laboratório de Citogenética Humana publicaram o artigo Risco residual de transmissão de infecções do Vírus da Imunodeficiência Humana e do Vírus da hepatite C por transfusão de sangue no norte do Brasil na revista internacional Transfusion. O trabalho, que faz parte dos resultados da tese de Priscilla Vieira (ICB/UFPA), compara o risco de transmissão do HIV e do HCV por transfusão de sangue antes e depois da implantação do NAT, que é um exame que detecta o vírus em amostras sanguíneas e foi implantado no Norte do Brasil em julho de 2012.
O artigo, publicado com o título Residual risk of transmission of human immunodeficiency virus and hepatitis C virus infections by blood transfusion in northern Brazil, originou-se na tese de Priscilla Vieira, pelo Programa de Pós-Graduação em Genética e Biologia Molecular da UFPA. O projeto foi realizado em parceria com a Fundação Centro de Hemoterapia e Hematologia do Pará (Hemopa). Pesquisadores do Laboratório de Citogenética Humana da UFPA e dos Laboratórios NAT (Teste de Ácidos Nucleicos) e GEBIM (Genética e Biologia Molecular) da Fundação Hemopa participaram do estudo, que foi realizado no laboratório NAT.
Segundo a autora, a pesquisa foi motivada pela inexistência de estudos sobre o tema. “No nosso conhecimento, nosso estudo foi pioneiro em estimar a prevalência, a incidência e o risco residual de transmissão de HIV e de HCV na Região Norte do Brasil, bem como em avaliar o impacto da inclusão do NAT HIV/HCV Bio-Manguinhos® no rastreio de doadores da Fundação Hemopa”, conta Priscilla Vieira.
A transmissão de infecções por transfusão é uma das maiores preocupações relacionadas à segurança transfusional. A triagem laboratorial de doadores de sangue é uma medida de extrema importância para proteger os receptores e prevenir a propagação de doenças perigosas, como as causadas pelos vírus HIV e HCV. Os testes sorológicos (imunoensaios) são base da triagem laboratorial e detectam anticorpos e/ou antígenos virais.
Entretanto, com essa metodologia, existe um intervalo entre a exposição do doador ao vírus e a produção/detecção de anticorpos conhecido como “período de janela”, do inglês window period (WP). É durante esse período que amostras contaminadas podem passar despercebidas. Essa não detecção de infecções no WP é a principal causa de infecções transmitidas por transfusão (ITTs).
Os testes NAT reduzem consideravelmente o WP, pois detectam diretamente o material genético viral, que é propagado antes dos anticorpos/antígenos. Para o HIV, a janela 16 dias (sorologia) passou a ser 9 dias com o NAT e, para o HCV, a janela de 70 dias (sorologia) passou a ser 10 dias com o NAT.
O artigo, publicado na revista Transfusion, considerada por Priscilla a melhor revista da área de Hemoterapia/Hematologia, objetivou determinar as taxas prevalência e incidência de HIV e de HCV entre doadores de sangue e comparar o risco residual de transmissão desses vírus antes e após a implantação do NAT HIV/HCV Bio-Manguinhos® na triagem de doadores do Estado do Pará.
“Além de ser pioneiro, nosso estudo demonstrou que a implementação NAT HIV/HCV Bio-Manguinhos® no Norte do Brasil aumentou, significativamente, a segurança transfusional, trazendo benefícios para os receptores, em virtude da melhor qualidade dos produtos sanguíneos produzidos na Fundação Hemopa”, acrescenta a autora. Atualmente, o laboratório NAT da Fundação Hemopa é responsável pela triagem molecular para os vírus HIV, HCV e HBV de doadores de sangue.
NAT – O NAT é uma técnica molecular para detecção direta do material genético viral (DNA/RNA), por meio da tecnologia de amplificação de ácidos nucleicos. O teste brasileiro NAT HIV/HCV Bio-Manguinhos® implementado na Fundação Hemopa em junho de 2012 possui tecnologia totalmente nacional e permite a detecção simultânea do HIV (Vírus da Imunodeficiência Humana) e do HCV (Vírus da Hepatite C). O NAT HIV/HCV Bio-Manguinhos® é totalmente automatizado e seu fluxo metodológico inclui três etapas: preparação das amostras, extração e purificação do RNA e ampliação e detecção do RNA viral.
Resultados – Os resultados da pesquisa mostraram uma elevada prevalência de HIV (209,9 por 100.000 doações) e uma baixa prevalência de HCV (66,3 por 100.000 doações) entre doadores do Estado do Pará, comparado com as encontradas em outras regiões brasileiras. O risco residual de transmissão de HIV e de HCV por transfusão diminuiu significativamente após a introdução do NAT HIV/HCV Bio-Manguinhos® na triagem de doadores, principalmente para o HCV em que a redução foi de 1 em 169.492 para 1 em 769.231 doações, correspondendo a um risco 4,5 vezes menor. Para o HIV, a diminuição foi de 1 em 107.527 para 1 em 263.158 doações, correspondendo ao risco 2,5 vezes menor.
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Texto: Elizandra Ferreira – Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Reprodução / Google