Aproximadamente 200 pessoas participaram da cerimônia de inauguração da primeira etapa das obras de restauro do Conjunto dos Mercedários, no centro histórico de Belém. O ato simbólico foi iniciado no auditório térreo da edificação, que ficou lotado e recebeu, dentre outras autoridades, o reitor da Universidade Federal do Pará, Gilmar Pereira da Silva, o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Aloizio Mercadante, o diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto, o prefeito de Belém, Igor Normando, e o diretor executivo da Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), Roberto Ferraz Barreto.
“A entrega desta primeira etapa do restauro do Conjunto dos Mercedários é um marco para a UFPA e para a sociedade. Este espaço, carregado de significados para a cultura, a história e a ciência amazônica, começa a ganhar nova vida graças ao compromisso de tantas mãos e instituições. Expresso minha gratidão ao BNDES, ao Instituto Cultural Vale e à Fadesp, parceiros fundamentais neste processo”, começou seu discurso o reitor da UFPA.
“Este não é um espaço apenas da Universidade, mas de toda a sociedade, porque acreditamos que a beleza e a memória da Amazônia são direitos que devem ser compartilhados por todos. Estou muito feliz e orgulhoso deste momento. É uma responsabilidade que assumimos com alegria ao devolver à comunidade um patrimônio que pertence a todos nós”, comemorou durante a cerimônia.
O presidente do BNDES, Aloizio Mercadante, destacou que o projeto de restauro dos Mercedários compõe os investimentos realizados pelo BNDES no estado do Pará nos últimos dois anos e meio. “Destinamos R$ 14,2 bilhões ao Pará nesse período. O governo anterior, em quatro anos, havia emprestado R$ 6,7 bilhões. Ou seja, em metade do tempo, mais que dobramos o apoio ao estado”, afirmou.
O diretor-presidente do Instituto Cultural Vale, Hugo Barreto, ressaltou que a revitalização dos Mercedários, em Belém, tem se consolidado como um exemplo emblemático de parceria entre instituições públicas e privadas em prol da preservação do patrimônio histórico e cultural brasileiro. “Esta iniciativa resgata um legado patrimonial único, ligado ao arquiteto Antônio Landi, e fortalece a presença da cultura como vetor de desenvolvimento”, acentua. Para ele, “a primeira fase da restauração foi entregue com excelência, reafirmando o compromisso com a memória nacional”.
“É com entusiasmo que representamos a FADESP neste momento tão importante. A Fundação tem atuado de forma significativa não apenas no desenvolvimento de projetos em todo o Estado, mas também ampliado sua presença com novas frentes de atuação. Hoje celebramos mais do que uma entrega: celebramos o compromisso com a transformação social”, pontuou Roberto Ferraz Barreto, diretor executivo da FADESP.

Também compuseram a mesa de abertura, Tereza Campello, diretora Socioambiental do BNDES, Cristina Vasconcelos Nunes, superintendente do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), o reitor da Igreja Nossa Senhora das Mercês, padre João Paulo de Mendonça Dantas, e a secretária de estado de Cultura Ursula Vidal.
“Temos muito orgulho de estar entre os principais financiadores deste projeto, especialmente porque esta é uma restauração que integra esse espaço ao restante do território, que é um lugar vivo, histórico, importante para a Amazônia e para o Brasil”, enfatiza Tereza Campello, diretora Socioambiental do BNDES.
Cristina Vasconcelos, superintendente do IPHAN, destacou a importância dessa obra, dentre tantas que estão sendo entregues para a COP30, como um marco transformador para Belém e para o Pará, um legado construído de forma coletiva e colaborativa. Segundo ela, “a conferência representa uma oportunidade única de fortalecer o patrimônio cultural do estado, tanto material quanto imaterial, por meio de parcerias sólidas e contínuas”.
A secretária de Cultura do Pará, Ursula Vidal, enfatizou a importância do tempo e do cuidado na preservação da memória histórica, destacando o papel técnico e sensível do IPHAN nesse processo. Segundo ela, a revitalização do patrimônio exige mais do que pressa ou produtividade; requer escuta, paciência e atenção aos detalhes. “Temos prazos para a memória”, afirmou, ao explicar que a análise criteriosa de cada projeto é fundamental para que o legado cultural seja restaurado com a dignidade que merece.
O prefeito de Belém, Igor Normando, destacou que a COP 30 está promovendo transformações profundas na cidade. Para ele, o evento está reposicionando Belém no cenário nacional e internacional, dando visibilidade a uma região que, por muito tempo, foi marginalizada ou tratada como invisível. “Belém era uma antes da COP 30 e será outra depois”, afirmou.
Já o reitor da Igreja das Mercês, João Paulo Dantas, mencionou o impacto emocional e social do projeto de restauração do conjunto arquitetônico. Segundo ele, o que está sendo construído vai além da materialidade, e representa uma verdadeira gestação simbólica de um novo tempo para Belém. “É como se todos estivessem esperando essa criança nascer, um novo ciclo, cheio de significado, que nos convida à gratidão. Hoje entregamos uma etapa relevante do projeto, e essa primeira etapa já é motivo de celebração”, disse, emocionado.




Financiamento – As instalações, que estão sob a salvaguarda da Universidade Federal do Pará (UFPA), recebem o financiamento do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e patrocínio da Vale. Somados, os investimentos superam R$ 49 milhões, permitindo que o restauro desse patrimônio avance em larga escala, oferecendo à região um espaço de referência arquitetônica, de pesquisa científica e cultura.
Fases estruturais – O prédio do antigo Convento dos Mercedários foi cedido pela Secretaria do Patrimônio da União (SPU) para a Universidade Federal do Pará em março de 2018. A proposta de ocupação do prédio pela UFPA prevê ambientes para atividades de ensino, pesquisa, extensão e cultura, voltadas à preservação, conservação e restauro do patrimônio cultural de Belém e do estado do Pará.
Conforme previsto no projeto, elaborado e coordenado pelas professoras Thaís Sanjad, Roseane Norat e Flávia Palácios, do Laboratório de Conservação, Restauração e Reabilitação (Lacore) da UFPA, já foram instaladas e estão em funcionamento no espaço, desde 2019, o curso de Bacharelado em Conservação e Restauro, pioneiro na Amazônia, e o curso de Mestrado em Ciências do Patrimônio Cultural (PPGPatri), além das atividades de pesquisa do Lacore. Também com caráter inovador, não só na região como no país, o mestrado abrange toda a amplitude interdisciplinar dos conteúdos das diferentes áreas de conhecimento, necessários à formação de profissionais para atuar na preservação do patrimônio cultural, aliando conhecimentos científicos das humanidades (história, museologia, arquitetura e urbanismo, antropologia, entre outros) com os das ciências naturais (exatas, biológicas e da terra) e os de base tecnológica.
Além das atividades acadêmicas e científicas, o Polo Mercedários UFPA abrigará a nova Galeria de Arte da UFPA, GAU, dirigida pelo Professor Orlando Maneschy, da Faculdade de Artes Visuais. A GAU será a responsável pela Reserva Técnica – da Coleção Amazoniana de Arte da UFPA, uma das mais importantes do Norte. Também funcionarão no Polo Mercedários uma livraria da Editora da UFPA, ed.ufpa, dirigida pela Professora Silvia Bechimol, com foco em literatura sobre patrimônio cultural, conservação e restauro, fotografia e artes visuais e um núcleo de ensino da Escola de Música da UFPA, EMUFPA que desenvolverá o projeto Ensino Livre de Música.
Para o início dessas atividades, a UFPA já investiu recursos próprios e recursos captados em editais públicos e emendas parlamentares.Um dos investimentos da UFPA consistiu da recuperação da infraestrutura elétrica do prédio, incluindo a aquisição de uma subestação que ampliou em vinte vezes a capacidade de fornecimento de energia com segurança, podendo suportar os laboratórios aqui instalados.
Em 2021, a UFPA submeteu o projeto de restauro completo do prédio do Mercedários, incluindo a Igreja das Mercês, ao edital público Resgatando a História – Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). O projeto foi selecionado pelo BNDES e, posteriormente, foi assinado o Memorando de Entendimento entre o Instituto Cultural Vale e a Fundação de Amparo e Desenvolvimento da Pesquisa (Fadesp), no qual foi previsto a destinação de apoio financeiro ao projeto Cultural de Restauro e Reabilitação do Polo Mercedários.
Nessa etapa estão sendo entregues o auditório do térreo, com 175 lugares, o espaço expositivo -foyer-, o átrio (englobando o jardim), estacionamento e espaços já restaurados anteriormente, como o mini auditório, sala de aulas e de administração.



Valor educacional e cultural – O processo de restauro conduzido pela UFPA vai além da recuperação física do edifício. Trata-se de uma ação articulada em torno de três dimensões: a científica, que fortalece a formação de profissionais e o desenvolvimento de pesquisas de referência; a cultural, que abre o espaço à sociedade por meio de atividades artísticas e educativas; e a preservacionista, que assegura rigor técnico, acompanhamento arqueológico e a salvaguarda de achados históricos.
Esta etapa é um marco importante no processo de apresentação do trabalho realizado nos bastidores. Até a inauguração completa do Conjunto dos Mercedários, prevista para 2027, quando todas as etapas do projeto estarão concluídas, cada avanço será acompanhado pela ampliação de usos acadêmicos, culturais e sociais, reforçando o papel da UFPA como guardiã de um dos mais importantes conjuntos arquitetônicos do período colonial de Belém.