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TAMANHO DA FONTE

Professora da UFPA pesquisa alterações metabólicas e visuais em mulheres diagnosticadas com câncer de mama

"Mulheres

câncer de mama é o segundo tipo de tumor mais frequente em mulheres, atrás apenas do câncer de pele não melanoma. A doença manifesta-se de diferentes formas, podendo ter desenvolvimento rápido ou mais lento. Em todos os casos, o diagnóstico precoce costuma ser o maior aliado. A maioria dos casos, com tratamento e tempo adequados, apresenta bom prognóstico, contudo os efeitos indesejáveis que as terapias promovem precisam ser investigados para melhorar a qualidade de vida e aumentar a sobrevivência das pacientes.  

Foi pensando na necessidade por estudos que ampliem o conhecimento exatamente sobre as opções terapêuticas e possíveis danos delas derivados que a professora do Instituto de Ciências da Saúde da Universidade Federal do Pará (UFPA) Maria Lúcia Souza Siqueira desenvolveu a tese Parâmetros de saúde metabólica visual em pacientes diagnosticadas com câncer de mama em tratamento anticâncer, apresentada pelo Programa de Pós-Graduação em Neurociências e Biologia Celular. O trabalho contou com orientação da professora Marta Chagas Monteiro e coorientação do professor Givago da Silva Souza. 

No trabalho, Maria Lúcia buscou avaliar a saúde metabólica de pacientes mulheres em tratamento de câncer de mama no Hospital Ophir Loyola investigando alterações no perfil lipídico, ganho de peso e obesidade, danos oxidativos e estado inflamatório decorrente da exposição aos quimioterápicos e ao tamoxifeno (e seus metabólitos), uma das principais drogas utilizadas no tratamento de hormonioterapia contra a doença. 

“O câncer de mama não termina quando se encerra o ciclo de quimioterapia, radioterapia ou é realizada a mastectomia (cirurgia de retirada da mama). Ele exige um período de observação da paciente e, para isso, é utilizada a hormonioterapia para evitar a recorrência. Durante o tratamento anticâncer, existe um organismo feminino exposto a uma gama de estressores químicos, cujos medicamentos e procedimentos terapêuticos podem alterar a resposta do organismo no enfrentamento da doença. Nem todas as pacientes respondem de forma satisfatória aos tratamentos e são livres dos efeitos indesejáveis, pois temos, em nossa região, uma variedade étnica que precisa ser levada em conta, além de serem pacientes com câncer de mama e na fase de pré e pós-menopausa. Isso que me chamou atenção para a pesquisa”, justifica a autora da tese que quis entender “o que acontece com o organismo dessas pacientes quando elas estão sob esses tratamentos”. 

A pesquisa – Ao todo, foram monitoradas 60 pacientes, divididas por grupos: em tratamento de quimioterapia; em tratamento de hormonioterapia com tamoxifeno e um grupo controle composto por mulheres sem câncer. “O critério de inclusão maior dessas pacientes seria as que já tinham diagnóstico de câncer de mama e estavam em tratamento no hospital, no período da pesquisa, que foi de 2017 a setembro de 2019”, lembra Maria Lúcia. 

As mulheres foram ouvidas por meio de entrevistas e aplicação de questionário sobre qualidade de vida e tiveram dados sociodemográficos, antropométricos e amostras de sangue coletados para análises do perfil lipídico, antropométrico, oxidativo e inflamatório de cada uma durante o tratamento. A pesquisa de Maria Lúcia Siqueira também procurou investigar a saúde visual das pacientes em tratamento. Para isso, foram realizados testes visuais, com o intuito de avaliar o efeito das terapias anticânceres na espessura da retina.

Os resultados obtidos mostraram que as pacientes eram mulheres na pré e pós- menopausa, em sua maioria, pertencentes à faixa etária de 40 a 50 anos, pardas, com renda distribuída entre 1 e 3 salários-mínimos. Segundo a pesquisadora, as pacientes expostas à quimioterapia foram as que mais apresentaram perfil lipídico alterado, danos oxidativos, ganho de peso e obesidade; e, quanto à saúde visual, foi observado um resultado discreto, com apenas uma paciente com alteração na retina.   Já em relação às pacientes em uso de tamoxifeno, os danos evidenciaram alterações metabólicas e elevação dos triglicerídeos observados quando comparados com o grupo controle normal, o que sugere risco de comprometimento terapêutico. “Esses resultados, por termos um número modesto de pacientes e por estarem associados com as terapias, não querem dizer que sejam específicos dos quimioterápicos, mas salientam a necessidade de monitoramento do metabolismo individual das drogas, dos lipídios sanguíneos, do ganho de peso e da saúde visual”, observa a pesquisadora.

Maria Lúcia acredita que um dos principais destaques de sua pesquisa diz respeito ao público selecionado. “A literatura científica nacional e internacional mostra pesquisas cujos resultados não são diferentes dos nossos. Nosso diferencial está por ser um estudo realizado em mulheres amazônicas e do Pará, porque as pesquisas voltadas a esses objetivos na região são escassas”, salienta a pesquisadora. “É sempre preciso avaliar a qualidade de vida das pacientes durante o tratamento, pois o aumento da sobrevivência, sem outras complicações recorrentes, depende de um estilo de vida saudável  e de como essas mulheres vão estar psicologicamente. As pesquisas internacionais são feitas com mulheres americanas, asiáticas e europeias. Estudos com brasileiras, mais especificamente paraenses, são necessários, já que existe uma cultura própria que não pode ser desconsiderada”, conclui. 

Agora, a professora pretende dar continuidade à pesquisa com o estudo voltado para a avaliação do perfil farmacogenético das pacientes mediante o metabolismo das drogas (tamoxifeno) e a eficácia do tratamento, com uma amostragem superior a 250 pacientes, e contribuir para a luta contra o câncer de mama, visando qualificar a farmacoterapia e aumentar cada vez mais a expectativa de vida das sobreviventes. 

Em números – Segundo dados da Secretaria Estadual de Saúde (Sespa), no Pará, foram registrados 677 casos em 2019 e 646 ocorrências no ano de 2020. A incidência da doença é maior entre mulheres de 50 a 59 anos (28%), seguidas por 40 a 49 anos (27%) e 60 a 69 anos (21%), levando em conta os casos ocorridos entre esses mesmos anos.

Texto: Edmê Gomes – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Foto: Arquivo Pessoal

 

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