Ringue preparado, lutador posicionado e pronto para derrubar o oponente. Ganha quem conseguir forçar o adversário para fora do espaço delimitado primeiro. Parece familiar? As tradicionais regras de sumô ganham um novo sentido na Universidade Federal do Pará (UFPA): a luta ocorre entre robôs construídos pelos alunos. Esse é o projeto criado pelo professor Marco José de Sousa, do Instituto de Tecnologia da Universidade Federal do Pará (ITEC).
A torneio entre os robôs surgiu nas salas de aula da UFPA com a disciplina Projetos de Engenharia III, ofertada aos alunos do 5° semestre dos cursos de Engenharia da Computação e Engenharia de Telecomunicações. Hoje em dia, além das tradicionais provas envolvendo a criação e teste dos robôs em sala de aula, o estudo prático é levado para além da academia com o projeto “Robô na Escola”. Fundado em 2015, ele visita escolas públicas de Ensino Fundamental e Médio em Belém.
Seu diferencial é o enfoque interdisciplinar. O aprendizado, além de dar aplicações práticas ao estudo da matemática e da física, estimula o interesse dos alunos nos mais diversos campos de estudo: a partir da história pode-se entender um pouco mais sobre a evolução das ferramentas tecnológicas ao longo dos tempos e seu uso em dados momentos históricos, como nas guerras mundiais; o campo da química, por exemplo, ajuda a compreender os processos de funcionamento das baterias utilizadas nos robôs. E assim por diante.
O estudo da língua inglesa não fica de fora – Muitos alunos passaram a dar mais valor às aulas de língua estrangeira depois de perceber que muitos materiais de estudo para a montagem dos robôs estão escritos em inglês, conta o professor Marco Sousa. As atividades também envolvem o manuseio de ferramentas como parafusos e outros instrumentos. “Coisas básicas que a gente tem que saber para a vida, e a escola não ensina”, defende ele. “Quando você bota o aluno para fazer um projeto por conta própria, ele aprende a procurar o conhecimento sozinho, dar mais valor ao que descobriu”. A intenção do professor também é mostrar que o trabalho não precisa ser “aquela coisa tão sem graça”, brinca.
Aprender brincando – Entender a programação dos robôs pode parecer difícil, mas com o devido apoio e ensino lúdico, o pesquisador da UFPA garante que o assunto pode ser facilmente passado a alunos que ainda não ingressaram na vida acadêmica. “O aluno descobre interesses que nem sabia que tinha, como a engenharia”, diz o professor. E isso pode ajudar na escolha da futura carreira profissional.
Esse é o caso de Cleverton Gonçalves, de 19 anos. “Eu conheci o projeto na minha escola e pude aprender sobre tecnologia de uma forma mais aprofundada. Foi muito legal, os voluntários estavam sempre dispostos a ajudar”, elogia ele. Graças ao projeto, Cleverton descobriu a paixão pela engenharia, área que deseja cursar na faculdade. Inspirado pelo aprendizado com os robôs, hoje em dia o estudante participa como voluntário e repassa o que aprendeu a outros alunos do ensino médio.
Para os estudantes do ensino superior os benefícios também são diversos. “A gente consegue aplicar vários conhecimentos do curso, como programação e eletrônica, exercitar a integração em equipe, aprender a fazer orçamentos para a compra das peças, fazer pesquisa. Além do conhecimento técnico, os alunos mostram que têm capacidade, na prática”, assegura Marco Sousa, pesquisador do ITEC.
Falta de apoio – O professor conta que há muitos professores interessados no projeto, mas falta apoio nas escolas. O maior obstáculo é a carência das escolas de bons laboratórios, computadores e material de aula, como quadro e giz. “Geralmente, os laboratórios são limitados, de difícil acesso e com poucos computadores”, lamenta.
A equipe do projeto Robô na Escola possui um portal para ensinar técnicas simples para a construção de robôs por conta própria. Saiba mais aqui.
Texto: Mariana Vieira – Assessoria de Comunicação da UFPA
Fotos: Alexandre de Moraes