“O amor cura. Cura e liberta. Eu uso a palavra amor não como sentimentalismo, mas como uma condição tão forte que pode muito bem ser o que mantém as estrelas em seus lugares no firmamento e faz o sangue fluir disciplinadamente por nossas veias”. Esse é um trecho da autobiografia Mamãe & Eu & Mamãe, na qual a poetisa e ativista Maya Angelou revela um pouco a construção de sua relação de afeto, carinho, cuidado, aprendizado e amor com sua mãe. Traços que possibilitam a construção do vínculo afetivo entre um filho e uma mãe, assim como entre uma mãe e um filho, ou seja, particularidades ligadas à maternidade.
Mas essa condição, que é natural a muitas mulheres, pode também ser considerada como um desafio para outras, pois, além de toda a romantização que rodeia o assunto, existe, ainda, a presença de tópicos sensíveis que necessitam de uma abordagem mais clara e humanizada. São discussões que desassociam a maternidade de vários tabus criados pela sociedade para configurá-la como algo “maravilhoso e perfeito”. Algo distante do debate sobre as reais dificuldades que envolvem todo o processo de concretização do laço afetivo de uma mãe e seu filho.
Nos últimos anos, muito tem se discutido sobre essa visão ilusória, socialmente, criada sobre a maternidade. Por isso assuntos como puerpério, amamentação, violência obstétrica, ansiedade e depressão no pós-parto e outros conteúdos vinculados à atuação materna durante esse período, principalmente no seu estágio inicial, tornaram-se tão frequentemente noticiados.
Com o aumento no número de discussões sobre tais assuntos, dois projetos de extensão da UFPA oferecem serviços de atendimento básico a mulheres que estão vivenciando um dos momentos mais delicados da maternidade: o pós-parto. O primeiro projeto é chamado “Respirar bem, que mal tem?”, orientado pela professora Carla Leonor Machado e coordenado pela Liga Acadêmica de Pneumologia do Pará (Lappa). A iniciativa tem o intuito de orientar as mulheres com crianças de diversas faixas etárias de idade, especialmente as que são mães de “primeira viagem”, sobre a prevenção e os efeitos de doenças respiratórias comuns na infância.
Já o segundo projeto, intitulado “Ambulatório de Depressão e Ansiedade: Acolhimento Psicológico às Mulheres no Puerpério” (Ambad), é coordenado pelo professor Janari Pedroso e está na fase inicial da realização de suas ações. Atualmente, o ambulatório está na fase de recrutamento das mães, sobretudo no período do puerpério, nas Unidades Básicas de Saúde (UBS) do Curió Utinga, e de encaminhamento delas para o Hospital Universitário Bettina Ferro de Souza.
Respirar bem, que mal tem? – O serviço oferecido pelo projeto é realizado pelos alunos do curso de Medicina da UFPA, do Centro Universitário Metropolitano da Amazônia (Unifamaz), da Universidade do Estado do Pará (UEPA) e do Centro Universitário do Pará (Cesupa) vinculados à Lappa. A ação dos participantes é efetuada na aplicação de um questionário às mulheres com crianças, especialmente entre 0 e 5 anos de idade. O objetivo é identificar dados epidemiológicos direcionados às doenças respiratórias que atingem os pequenos dessa idade.
“Esses tipos de projetos são importantes para ajudar as mães, principalmente as de ‘primeira viagem’, a entenderem mais sobre essas doenças respiratórias, umas vez que são muito prevalentes no público infantil e, além disso, causam muita aflição nessas mães. Por isso são ações relevantes, que auxiliam a entender os sinais de alarme, para saber quando se preocupar e procurar ajuda médica, assim como ter noções básicas ao lidar com casos mais leves de problemas respiratórios. Algo que torna a maternidade um pouco menos assustadora, a partir da difusão de informações fundamentais”, assegura a professora da UFPA Carla Leonor Machado, que coordena o projeto.
Como orientação, a professora Carla Leonor Machado recomenda alguns exercícios básicos, implementados pelo projeto, que promovem melhorias na respiração das crianças. Tais atividades auxiliam na expansibilidade pulmon possibilitam a higiene brônquica; melhoram a ventilação pulmonar e a troca gasosa; fortalecem a musculatura respiratória e o condicionamento cardiorrespiratório: Língua de sogra ou linguarudos – contribui para o desempenho da inspiração e expiração da criança por conta da resistência do brinquedo; Bolinhas de sabão – analisa a precisão do sopro da criança, exigindo concentração e controle dos músculos respiratórios do uso de apitos, balões, cornetas e do assopro de bolinhas de papel com canudinho.
O projeto ainda atua de maneira periódica em outras UBS e praças públicas. As ações podem ser acompanhadas pelo Instagram da Lappa.
Ambulatório de Depressão e Ansiedade – O “Ambulatório de Depressão e Ansiedade: Acolhimento Psicológico às Mulheres no Puerpério" está vinculado ao Projeto de pesquisa financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) "Desenvolvimento socioemocional de bebês: importância das interações, personalidade materna e temperamento infantil". As ações do Ambad são executadas pelos discentes de doutorado e mestrado Kleber Oliveira e Daniela Pujadas, ambos pertencentes ao Programa de Pós-Graduação em Psicologia da UFPA (PPGP).
Na atual fase do projeto, as mães estão sendo contatadas nas UBS para que venham a ser atendidas e acompanhadas pelos integrantes do projeto no Hospital Bettina Ferro de Souza nos próximos meses. De acordo com o Janari Pedroso, professor responsável pelo Ambad, o acompanhamento no puerpério de uma mulher pode fornecer suporte para o alívio de angústias, expressão de satisfações e insatisfações.
“Acreditamos fortemente no desenvolvimento de ações ou intervenções psicoeducativas de uma escuta clínica que atenda às demandas psicológicas de mulheres que possam estar passando por alguma dificuldade emocional, e reconhecemos que os fatores psíquicos no pós-parto, como depressão e ansiedade, se destacam como alterações emocionais de maior relevância nesta fase”, declara Janari Pedroso.
Por isso o professor alerta sobre os cuidados com a saúde da mãe nesse período tão importante da maternidade. “Precisamos trabalhar alguns mitos sobre a maternidade e olhar para a mãe sem a visão idealizada de que é uma “fortaleza” e que pode apresentar, sim, dificuldades nesse processo. Portanto é fundamental que falem dos seus medos, das suas angústias, fantasias e do seu futuro como uma das responsáveis pelo cuidado do filho. Cuidado que também depende de uma rede de apoio, com a participação do pai e da família”, lembra o professor.
Mais informações sobre essa e outras iniciativas realizadas pelo Ambad podem ser conferidas por meio do site ou do Instagram.
Texto: Leandra Souza – Assessoria de Comunicação Institucional da UFPA
Fotos: Arquivo do projeto